terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Microcosmo ferroviário

É estranho como o trem faz aparições seguidamente nos textos aqui do AT. Talvez o trem seja tipo um microcosmo da vida, ou não também. Mas enfim ia eu no trem um dia desses e depois de uma épica batalha com senhoras de guarda chuva consegui entrar e me sentar. Duas estações depois um senhorita grávida entrou no vagão e eu lhe ofereci meu assento. Estando de pé pude observar do alto as pessoas interagindo umas com as outras, conhecendo-se ou não. É um exercício bacana de se fazer, enxergar as pessoas ao seu redor.
Vi uma senhora que desgostosamente estava sendo metralhada pelos pingos de chuva que passavam pela janela à sua frente. Ela, gentilmente, pediu à moça sentada no banco da frente que fechasse a janela e essa por sua vez, com um tom irritadiço, negou o pedido. Enfim a senhora no banco de trás teve que tomar chuva na cara e foi reclamando alto a viagem toda para que a da frente escutasse. Pensei: "agora nem que a moça da frente comece a se irritar com a chuva, ela não vai fechar a janela, só pra não contradizer a própria decisão e parecer fraca. No final das contas ambas vão estar infelizes e molhadas." Pude perceber também que por mais que a senhora reclamasse não podia fazer nada, pois quem tinha poder sobre a janela era a outra e sendo assim, teria de aceitar sua escolha, de bom grado ou não. Essas microrelações de poder mostram um pouco como é a sociedade. Aqueles que tem poder tomam decisões. Decisões estas que podem fazer mal até para si mesmos, mas não voltam atrás para que não percam poder. É fácil ver como alguns então apelam para a violência; violência é a única coisa que vai além do poder comum e que pode fazer com que alguém volte atrás. Tudo isso pode mudar se percebermos como o poder é momentâneo. A viagem do trem uma hora acaba e nós perdemos de qualquer forma o poder sobre a janela. É simples: as atitudes e decisões devem ser pensadas para todos, em conjunto, ou no final acabaremos todos descontentes, feridos e molhados.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Moradores do centro?








sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Vera Lúcia, Claudir, Cyborg e os animais.


Trem. E eu com um texto sobre cyborgs. A argumentação me levava a refletir sobre a aproximação com os animais que chegam os cyborgs, os tais seres humanos fundidos com máquinas. Os tais seres humanos que costuram um computador aos seus dedos e às suas cabeças. A falta de repressão que sofrem por manter uma relação próxima à tecnologia e as possibilidades de acesso a qualquer conteúdo sem respeitar grandes padrões os torna mais instintivos. Sem repressão, sem molde.

Na segunda-feira, o glorioso escritor do Teste do Ácido do Refresco Elétrico falou sobre isso em Porto Alegre enquanto eu mudava de posição os fones nos meus ouvidos para escutar um pouco em português e um pouco em inglês a pronúncia das palavras 'Paris Hilton'. Tom Wolfe, com o seu terno branco e camisa azul: "A repressão sexual é o que nos torna humanos". Velho conservador da porra!? Mas e o que nos resta se deixarmos as crenças, os sentimentos, todos os padrões que nos reprimem de lado e viver os nossos instintos? Barbárie...

Mas e quem quer ser mais humano?



Pensamento como páginas nas mãos. Decidi anotar. De marcador de texto laranja. A mulher ao lado achou que a letra saiu bonita. É... obrigado. Achou bonita, porque não tinha uma grande familiaridade com aquela comunicação. Vera Lúcia dos Santos - passageira de trem diariamente, vendedora de panos de prato, ex moradora da sua "roça" - era analfabeta. Viajava com o marido e companheiro de vendas ambulantes, Claudir ventura, cego e analfabeto.

Vida difícil. Acontece de os passageiros do trem não cederem espaço para o seu marido sentar. Ter que vender nas ruas todos os dias é o único jeito de viver. Pelo menos não pagam o trem. Direito de ir e vir e obrigação de não poder ficar em lugar nennhum.

Animais lutam pela sua sobrevivência. Humanos lutam pela sua humanidade, pelo suas ambições, por seu conhecimento, por suas crenças. Humanos lutam. Brigam. Agridem. E são seres humanos.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Come on, who wants to come on stage?


maximo p. copacabana club. Montanha Russa

Primal Scream, belos vídeos e bom show.

(...)

O Sonic Youth e a sua onda de beleza com guitarras tinha acabado. Chuva, luz, as fotos em movimento na minha frente. Aquilo não foi um show. Foi algo maior, uma onda atingiu a todos e muitas mandíbulas inferiores não aguentaram o peso da gravidade e se renderam à verticalidade, tanta a intesidade de sentimento na conversa instrumental dos caras. O Planeta Terra de boca aberta. O festival. O planeta ficaria também. Acredito.

O palco já se preparava para aguentar o véio. Mas eu precisava de mais. Mais alucinação, mais irracionalidade - "Razão é repressão, razão é repressão!", mais cerveja cara (a porra do festival e a sua falta de doses de destilado ou cerveja barata). Fila. Pouco tempo. "Rápido, o Iggy já vai entrar". Furei fila, pedi tudo errado. Bêbado querendo ficar mais bêbado. Era o Iggy Pop! Que o bom mocismo ficasse pra depois. Pra outra vida.

00:00. Era hora! Fila. Sem tempo. Deixei o dinheiro e corri pro bom e velho passado. Pra música visceral, que vem da carne. Correria e gritaria: "foi, foi, foi!"
Os Stooges no palco. Iggy com a perna esquerda no lugar da direita, manco, velho e surpreendente. A vitalidade jorrava a cada uso do microfone e balanço do corpo.

O êxtase foi tomando conta dos cadáveres. "Let's get some helpers. Come on up here, help me sing. Come on, who wants to come on stage? Let's add some people". E agora? "Foi!" As pessoas abriam caminho, bastava dizer eu quero subir. A grade chegou muito rápido. Fiz o parto do cara da minha frente e nasci logo em seguida do melhor lado do show. Mergulhei naquela piscina de insanidade. Machucados? Que isso?!

Mas os seguranças já impediam a subida. Quem sabe levei algum soco, empurrão. Caí de cima de uma caixa de um metro e meio junto com mais umas 5 pessoas. Segurança filhodaputa! A razão já era. Chute na repressão, abraço nos amigos e beijo nA mulher que pra minha euforia decidiu cair do lado certo da cerca. "Não vamos sair!". Dança e fotos. Pulos e gritaria. Vida e sujeira. Adrenalina e aprendizado...

Saxofone e todo mundo descendo com mais uns socos e empurrões. Segue o show e as dores começam a aparecer. A perna direita deve ter quebrado, só pode. Manco, mas pulando. Eu e o Iggy. 40 anos de diferença e a vitalidade do véio me ganha nuns 100.

Pausa e volta. The passanger e Lust for life. Entendi. Fomos passageiros na viagem do desejo da vida... nada de racionalidade, sabe? O véio conseguiu dar uma hora (ou meia ou duas ou...) do que ele viveu a vida inteira.

Saiu e as calças caíam. Estava mais nu do que entrou. Nos vestiu com um pouco mais de vida. Levou gritos, aplausos, insanidade, arranhões e hematomas alheios. E quem é mais vivo?

E a crítica? Razão é repressão!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Quando crescer quero ser jornalista OU a epopéia do GIG Rock

bebida liberada pra jornalista não dá certo.

se bem que na verdade, o open bar que rolou pra quem tinha credencial de imprensa no gig rock foi o único estímulo para realizar o projeto de reportagem a ser publicada nos próximos dias no NY Times. como o times é meio restrito em suas publicações, a versão suja, inescrupulosa, bêbada, e, por isso mesmo, verdadeira, sairá nessas letras brancas que vocês estão a ler.

voltando a questão do open bar, digo que foi o único estímulo para a feitura da reportagem utilizando única e exclusivamente como prova as nossas caras de desolação ao entrar no lugar em que o festival estava sendo realizado (vazio e o som horrível) ainda não munidos de nossa credencial. a única coisa em que pensava era que queria sair dali o mais rápido possível.

mas então, a situação mudou e o festival se transformou. a fatídica pulseirinha amarela/verde/fluorescente caiu em meu braço quase que por milagre, e aí sim, o paraíso do segundo andar estava aberto para a vindoura atividade.

22 e 30, no quarto copo de cerveja, decidimos fazer algumas entrevistas. os shows estavam naquela de sempre e procuramos um responsável. acabamos encontrando o dono do festival, fizemos aquelas perguntinhas que vocês poderão conferir diretamente no times, mas que não cabem nesse texto de agora. e foi justamente depois dessa entrevista que desisti de trabalhar e me foquei em beber. infelizmente, pois gostaria de ter entrevistado os caras da graforréia - entrevista essa que se resumiu em uma abraço bêbado em carlo pianta as 5 da manhã dizendo pra ele que deveria tê-los entrevistado mas tava muito bêbado pra isso. a sua resposta? faz por e-mail cara, pode fazer por e-mail. gente fina esse pianta.

mas voltando ao início do festival então, enquanto a bebida entrava e nos esquivávamos da assessora de imprensa que tinha nos dado as credenciais (VALEU BEBÊ) os shows iam rolando. meio que um por cima do outro, com duas baterias já montadas para agilizar o processo de troca das bandas. apenas quando a atração principal da noite, MALLU MAGALHÃES, foi entrar no palco, é que o som deu uma trégua de meia hora, sem trilha gravada, apenas com os ruídos de uma equipe de uns 10 roadies devidamente uniformizados passando o som. os shows que rolaram pré-mallumagalhães foram bons e ruins. chegamos na banda uruguaia maluca Hablan por la seiláoque que tava legal, depois rolou um walverdes ruim, depois outra uruguaia ruim, dai rolou uma dupla moderninha que ninguém entendeu muito bem, ainda mais quando entrou uma guria estilo programa ÍDOLOS fazendo uma intervenção vocal palha, depois rolou um tonho crocco tocando só ultramen.

quando finalmente começou o show da mallu, o festival que antes estava vazio encheu. o show, sem hipocrisia da minha parte, se fosse outra guria bonitinha de 16 anos no palco eu teria achado tri bom, mas como era a mallu obviamente que o cara já chega cheio de preconceitos. culpa dela mesmo. ela tocou 6 músicas, entre essas dois covers. dai entrou o camello, tocou mais três e foram embora. nem passaram na sala de imprensa pra dar um oi e tomar uma ceva com os jornalistas, a essa altura já completamente bêbados (to falando de mim, mas acho que era o estado geral).

mais ou menos por ai que os uruguaios malucos começaram a receber, de nós, o seu título de uruguaios malucos. não vou especificar o que lhes rendeu o título, mas envolve ingestão de drogas via nasal na cara dura, gritaria generalizada incluíndo brigas na hora de entrar no táxi e corrupção de menores (se bem que né, por aquela ali eu até faria o esforço - se o camello pode pq eu não?).

e nessas e outras, mais ou menos no momento em que a cerveja foi deixada de lado por alguns instantes para dar lugar a uma vodkinha de canto, começa o auge do festival, quiçá da minha vida. pato fu entra no palco. puta que pariu que show afude. tá certo que eu não conhecia 80% das músicas e que grande parte era um pop melosão, mas foda-se. fernanda takai é tudo. carisma, bom humor e uma voz INFALÍVEL - limpa, melodiosa, queridíssima - fizeram dela minha nova paixão platônica. só perdeu alguns pontos por não ter ido dar o ar da graça na sala de imprensa para eu tirar uma fotinho e pendurar na minha parede. paciência, ela eu deixo. destaque para a parte do chifrinhos brilhantes - mothafucka.

depois do pato fu, os pobres coitados do primeiro andar devem ter enchido o saco de pagar 4 pila a lata de antártica e foram tudo embora. sobrou só a galera que tava muito pelo rock gaúcho'(ainda iam tocar graforréia, bidê ou balde, efervescentes e tenente cascavel) e os LOUCOS. e garanto pra vocês, LOUCOS não faltaram. não sei se era o crachá ou a identificação de semelhantes, mas que nos tornamos um imã das pessoas mais aleatórias no final da festa é fato inegável. destaque para o da câmera e o que me deu um cd (valeu broder, o cd é uma bosta mas a intenção foi bonita. te pago uma vodka com fanta na próxima, se é que tu tenha sobrevivido aos 30 copos bebidos nos 5 minutos que falei contigo).

fomos embora durante o show da bidê ou balde, que eu na realidade estava curtindo bastante, mas meu corpo já não respondia ao meu cérebro, vítima de abusos feitos por mim mesmo nos últimos dias. pra botar uma cereja no bolo, ainda recebo uma ligação sendo chamado de frutinha, idiota, filho da puta; nunca mais quero te ver, tenho nojo de ti e espero que tu morra na volta pra casa. o que posso dizer frente a tal ligação? ri, e ainda dei o telefone pro daroit dar uma curtida nos insultos. essa tava mais bêbada que nós eu acho.

e agora me vejo, como sempre, sem conseguir dar uma fechamento adequado pro texto. vou me utilizar do daroit então, citando sua célebre frase proferida incessantemente por todos nós durante toda a noite: "QUANDO EU CRESCER, QUERO SER JORNALISTA"

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ponto de nulidade opinativa, nem prá lá e nem pra cá

Hoje vi na TV uma cena chocante, não pela sua circunstância, mas pela natureza mesmo. Uns presos em Santa Catarina estavam tomando uma coça bonita dos policiais e um deles teve a cabeça enfiada no vaso. Enfiar a cabeça de uma pessoa no vaso é o tipo de coisa que não só te faz entrar em pânico, mas que com certeza quebra teu espírito. Ainda não tive a infelicidade de sofrer tal tortura, mas é isso que vem na minha cabeça quando eu me coloco no lugar daquele cara. Eu imagino, se eu fosse ele, tivesse minha cabeça enfiada na privada, tivesse tomado um monte de tapas, socos, chutes, golpes com pedaços de pau e canos de borracha, como eu me sentiria quando voltasse chorando, machucado pra minha cela? Uma cela úmida, lotada, fedida, quente, o inferno bem dizendo (se você acha que uma cela é como essas de filme se engana, é um buraco que fede a mijo no meio de um corredor escuro e sem janelas). Será que eu sairia da cadeia querendo ficar de bem com a sociedade? Claro que não! Ou eu me matava ou eu matava alguém (ou alguéns). No entanto, olhando por outro lado, os caras que apanharam fizeram por merecer. Algum crime cometeram pra estar lá. Roubaram de um homem que lutou para ter seu dinheiro suado, mataram o filho estudioso de uma mãe coruja, estupraram a namorada linda e inocente de um garoto apaixonado. Todas essas pessoas também tiveram seus espíritos quebrados. Por isso a conclusão a qual chego é: a polícia e os criminosos, tanto quanto eu e você, têm suas atitudes guiadas por suas ilusões de poder. O poder flui, uma hora é seu, outra já não é. E quanto mais poder você dispõe e usa, mais pessoas poderosas vão querer tirar esse poder de você. Se usássemos nosso poder de forma sensata, sem abuso, e nos colocássemos mais nos lugares uns dos outros, não precisaríamos mais baixar a cabeça... Ou tê-la abaixada em direção a água sanitária.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Aprecie com moderação.


Cheguei na Bienal e era segunda-feira. Os visitantes foram substituídos por trabalhadores, é dia de manutenção.
Mulheres limpam tudo, homens preparam novas obras, a multidão de belos carros continua enfileirada e esperando os que estão ali sem massa nas mãos. Uns trabalham, outros ordenam. O mundo não muda muito dentro dos museus e dos pavilhões que abrigam a arte contemporânea que contesta a realidade.

A visita vai ter que esperar. A percepção da realidade fica pra amanhã. Ou talvez eu não apareça mais por lá... O tempo é curto, preciso pensar no meu trabalho, nas minhas aulas, nas minhas horas de lazer de vazio intelectual.

Mas milhões de reais investidos devem me proporcionar pelo menos uma rachadura na cabeça por onde possam entrar alguns resquícios de conhecimento de tudo o que se passa no mundo. No mundo real. No mundo em que os moradores de rua dormem no chão e passam fome em frente aos mega eventos que visam a classe média/alta intelectualizada.

O artista pinta, esculpe, desenha, pensa, compõe. O jornalista denuncia, reclama, finge que se vê indignado. O morador de rua tenta continuar sua vida.

E os intelectuais pensam e apreciam.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

11:20 pm.


O último trem da noite se preparava para sair enquanto eu trocava um vale-transporte por 3 pacotes de balas de goma e um torrone com um companheiro de viagem. Seu José, Manuel, Ricardo, Aroldo me passava os doces e contava sua rotina. Tinha trabalhado o dia todo e enfrentado suas horas cansativas e perigosas na rua. Mas não há nada a fazer, ser ambulante é o que lhe sobrou. A convivência com a rua é a única forma de não viver nela integralmente.

Uma conversa sobre o mundo real, um papo que me agredia o estômago a cada plano contado com profundidade de campo infinita, onde cabiam milhares de vendedores como aquele, me fazia ter nojo do meu cérebro preguiçoso e cheio de vácuo intelectual referente ao que pode ser feito para que se mude a merda toda em que se vive. A cada frase eu me sentia mais alienado, mais ignorante ao que acontece no trem das 11 e 20 da vida.

O trem para e arranca. Acordo do devaneio com um adolescente comprando torrones para ele e suas amigas. Depois de três perguntas, consigo saber o porquê de sermos companheiros de viagem: são os mais novos contratados de um Mc Donalds de Canoas e se dirigem às suas casas. Felicidade e raiva tomaram o meu pensamento. Reféns do capitalismo ou sobreviventes com um emprego? Difícil escolher... Mas a sua essência ainda estava lá: fiz parte da partilha dos torrones, eu poderia comer junto com todos, sem nem mesmo ter falado meu nome.

Se foi a juventude. Ficou a experiência. O vendedor ambulante precisava vigiar o acerto do anúncio de qual estação estávamos. Erros aconteciam. Afinal, já descera muitas vezes na estação errada, o condutor errava algumas vezes. Mas e aí, como ele fazia para chegar no destino certo? As pernas pagavam pelo erro da grande organização.

E os carros continuam cheios de pessoas sozinhas nos bancos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009


Cardápio (RU)

Chicória
Massa com molho
Bife
Arroz
Feijão
Laranja

Espetacular. Massa.

Entrei com a Coca na mão. De alguma maneira a propaganda ainda existe dentro de mim. De mim e do José, Josué, Josef. Belo dia. Dia de massa. Dia massa.

Fila grande, calor, risada. O pagamento e a servida se aproximam. O simbólico passa de mão em mão. Álcool gel em tempos de suínos ameaçados pela ignorância. Bandeja na mão e idéia na cabeça (assim é o povo, nada de câmera).

Chicória, arroz feijão, arroz feijão, mas... Acabou a massa.

(...)

Eu vou ficar aqui até a porra da massa chegar.

(...)


É assim. O ser humano só entra em crise e se mobiliza quando as suas necessidades básicas são atingidas.

Cuidado com a massa(,) classe média.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

oi

eu curto o que eles fazem, saca. acho o máximo mesmo, às vezes até perco meu tempo imaginando como seria se fosse eu no lugar e tal. quase o tempo todo, na real. naquela coisa de não ter o que pensar e ficar nesse delírio juvenil de se pôr no lugar de quem a gente curte, como se tivesse aqueles poderes de filme b e desenho animado de trocar de lugar, fazer brotar coisas do nada, essas coisas assim.

mas sei lá, é todo mundo tão idiota na real. ficam aí pagando pau pra uns malucos babacas, num misto de vergonha alheia e decepção. ficam falando umas merdas absurdas e se achando os fodões engraçadões. pior que se fosse eu, taria fazendo o mesmo, se pá. ou não também, sei lá. às vezes prefiro minha vida sem talentos mesmo. sem expectativas, sem cobranças. não quero ser o cara mais engraçado, o músico revolucionário, o poeta à frente do meu tempo, o escritor de clássicos da literatura nem nada. tá, ainda quero ser o john hartson, mas o futebol tá em outro plano por enquanto. só quero fazer por fazer, quando minha vagabundice deixar. vai ver tô ficando meio indie demais, mas foda-se. agora eu sei que eu curto o que eles fazem, mas não quero ser igual a eles. idiota por idiota, prefiro minha própria idiotice, mesmo que eles façam coisas mais legais.

Fodam se os críticos ou "A chinesa" do Godard


não que eu os ignore ou ache que eles devam cometer suícidio intelectual coletivo à la jonestown. inclusive, muito da minha crítica aos críticos em geral se deve a minha incapacidade mental de me incluir em seu seleto grupo. nunca tive talento para expor meus argumentos de por que gosto ou não gosto de tal coisa. até acho que o trabalho dos mesmos é essencial para a arte e cultura, portanto não tomem o título ao pé da letra, é só uma hiperbole chocante para atrair a vossa atenção. leio muitas críticas, principalmente de críticos que ODEIO, justamente para ler/ouvir/assistir a tudo que eles falam mal, usando a minha querídissima e eterna inspiração Isabela Boscov (L)(L)(L) como exemplo.

mas e dai vem a questão: que porra tá fazendo o nome de um filme no título do post se tu não vai falar dele?? ahááá! quem disse que para falar de um filme preciso fazer uma crítica, apontando seus erros e acertos como se eu fosse grandes coisas?

a escolha do filme em questão não é mera coincidência (sério?!?!) e muito menos o título em que ele figura. escolhi o filme por que, obviamente, ele teve um impacto sobre mim, seja ele qual for, mas também por que foi feito por um dos intocáveis do cinema, aquele que talvez seja o mais aclamado pelos críticos ao redor do mundo, nosso bom e velho amigo Jean-Luc Godard.

PQP, mais um chatopracaralho vindo falar desse porra desse Godard??!?!?!

essa seria a minha reação se eu estivesse do lado de vocês nesse momento. maaas existe uma questão que quero explorar rapidinho. como eu disse antes, não consigo expor minhas razões do por que gostei ou não de algo, mas se gosto profundamente, gosto de saber a opinião dos outros também. e pra onde que posso me voltar quando quero saber uma opinião concisa e fundada sobre algo artístico? pra crítica né! e lá vai google atrás de resenhas e mais resenhas sobre "a chinesa".

juro, cheguei a encontrar textos de 50 mil caracteres até, explorando mil e um significados, referências, conceitos escondidos e o caralho a quatro, nenhum deles chegando perto do que o filme realmente significou pra mim. e o que ele significou pra mim?

exatamente esse desprendimento de uma possibilidade real de crítica concisa e fundada. a experiência que o filme nos propõe não é a de uma análise sobre a obra em si, mas sim a de uma participação ativa na construção do mesmo. se tu gostar, tu vai montar o filme por ti mesmo, se não, vai dormir, sem dúvida.

por isso que não se pode falar do filme propriamente, pois o filme como obra fechada não existe.

além disso, agora rapidinho só pra finalizar linkando com o título, "a chinesa" do Godard (ele mesmo crítico de cinema antes de virar cineasta) é para mim a sua verdadeira crítica. nele são postas de maneira quase didática, todas as questões que percorrem o campo do cinema, como montagem, som, atuação e etc. é o cinema falando do cinema com o cinema. e, para fechar sua obra cinematográfica na forma de crítica, Godard aponta todas as contradições dessa classe de jovens intelectuais franceses (na qual ele mesmo se incluía) que, alguns meses depois, iria para as ruas no famigerado Maio de 68.

acho que a "a chinesa" conseguiu por em prática tudo o que sempre pensei sobre arte e crítica de arte numa obra que pode ser considerada anti-arte. e no fim das contas, já vale assistir só pelo prazer estético merrmo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Antropofagia e Resistência

parei pra pensar esses dias o que é a cultura brasileira e o que ela significa para mim. sempre pensei nessa expressão "cultura brasileira" como algo externo a mim, distante e sem nenhuma relevância. por eu ter crescido em um mundo "globalizado" (expressão essa que agora desprezo completamente), me sentia inserido no que pode ser tomado como uma cultura jovem geral, mundial.

para mim, essa busca pelas raízes do seu próprio povo sempre soou chata e retrógrada, primeiro por que eu realmente não sentia nenhum tipo de identificação pelas manifestações artísticas dos confins de um país do qual eu nunca vivi. é uma espécie de resistência preconceituosa, porém nem um pouco infundada, visto que meu contato diário com isso que se habituou de ser chamado de cultura brasileira era zero.

porém, foi ai que comecei a pensar. uma das minhas principais características quando penso, é justamente uma resistência quanto ao que me falam que devo gostar. tu tem que gostar de chico buarque. foda-se, não conheço e não gosto, ponto final. tu tem que te identificar com a cultura brasileira. foda-se, não conheço e não gosto, ponto final.

no caso do chico buarque é fácil fazer isso (não que eu goste ou não goste, é só um exemplo), pois o chico buarque tá ali, tem os discos e a pessoa, tudo exatamente no seu lugar. mas e no caso da cultura brasileira, que é um conceito amplo e totalmente interpretativo? eu sei que a minha resistência vêm do que o senso-comum se habituou a chamar de cultura brasileira, ou seja, paradas quase sempre de caráter rural, folclórico e que dificilmente me dizem alguma coisa. mas, como eu disse, isso é condicionado pelo senso comum, e, se existe uma palavra em que o senso comum nunca pode ser levado em consideração, é cultura. primeiro pela sua própria definição, que desafio qualquer um dos que lerem esse texto darem uma convincente da ponta da língua. e segundo, pela própria substância expressiva do conceito como um todo, que é a arte basicamente, por natureza externa ao senso comum.

a partir dessas minhas divagações, eu comecei a tentar estabelecer o que, para mim, seria o conceito de cultura brasileira. claro que tive por motivação um maior contato com produções artísticas brasileiras, principalmente a tropicália, mas essa pode ser uma discussão que abrange grande parte das coisas que penso no momento. é um bom exercício reflexivo.
mas então, depois de definir que o meu conceito de cultura brasileira (rural, nordestina papapapa) era fruto do senso comum, decidi buscar dentro do brasil, aquilo que corresponde aos meus interesses culturais, ou seja, algo urbano, marginal, subversivo, inteligente, moderno. e porra, te digo que o brasil corresponde de maneira surpreendentemente positiva nesses aspectos culturais.

primeiro lugar, no brasil existe algo, produto do homem ao pensar em si mesmo, portanto cultura, um conceito que provavelmente é familiar a todos que leem esse singelo blog, que é a antropofagia. dificilmente em algum outro lugar do mundo (não sei, não estudei) existe um conceito cultural tão conciso em si mesmo, e que reflita tào bem as características inerentes tanto ao povo em si, como a sua relação com o exterior. a antropofagia proposta pelo oswald de andrade pode ser vista como uma verdadeiro leitmotiv para toda a produçào cultural relevante que se instaurou no brasil depois dele. nele, se pode notar duas preocupações do povo brasileiro em geral, que provavelmente todos temos dentro de nós. a primeira é a nossa insistência de nos sentirmos inferiores a tudo que vêm de fora, nos sentindo incapazes de produzir algo verdadeiramente brasileiro, porém de qualidade superior aos produtos europeus ou norte-americanos. e a segunda é a nossa habilidade em transformar situações adversas em propícias, através de uma criatividade quase subversiva, o chamado "jeitinho brasileiro".

ora, e o que oswald nos propõe no manifesto antropofágico? já que não temos auto-estima suficiente para produzir algo por nós mesmos, vamos comer tudo que os gringos produzem e, usando o nosso famigerado jeitinho brasileiro, vomitar tudo, levando em conta todas as provações e dificuldades misturadas de uma maneira que ninguém vai perceber mesmo, como somos especialistas. pronto, as cartas tão na mesa. é só saber quais usar pra fazer teu jogo.
e realmente, a partir do manifesto antropofágico, todos aqueles que foram inteligentes o suficiente para produzir obras de impacto cultural profundo, se utilizaram dos métodos propostos pelo oswald. bossa nova, tropicália, mangue beat, só pra ficar na música.

então tá, primeiro problema resolvido. cultura brasileira antropofágica OK

mas o que me levou a escrever esse texto não se resumia apenas a cultura antropofágica, mas também a um outro aspecto que eu chamei de cultura de resistência. como todos sabem, o brasil sofre um golpe militar e por 20 anos viveu sob uma ditadura pesada. essa ditadura, agora observando de longe, acabou por ser responsável por uma série de manifestações culturais subversivas por excelência (já que cultura implica pensamento e pensamento implica perigo para uma ditadura) que acabaram por se cristalizar justamente por terem sido criadas sob um regime repressivo.

mas eu acho que essa cultura de resistência, além de ter criado e cristalizado manifestações culturais de extrema importância, ela assumiu um papel também de consciência coletiva, uma clima, um momento que pairava no ar. essa consciência coletiva que os jovens brasileiros da época compartilhavam pode ser vista por um aspecto diferente da cultura, a parte da própria arte em si, que é o aspecto de transmissão de costumes de pais para filhos. antigamente isso vinha na forma de folclore, rituais, religião e etc. para mim (e acredito que para muitos de vocês) veio na forma dessa cultura de resistência, esse afã de questionar o que é estabelecido, essa crítica eterna a quem está por cima, aliados sempre com as características do povo brasileiro.

esse tipo de pensamento sendo transmitido quase que de forma espontânea pelos nossos pais, acaba por tomar proporções de verdade absoluta, assim como acontecia com os rituais em tempos idos. esse tempo, que podia ser confundido com história, se torna cultura principalmente pelo impacto que teve na vida justamente de nossos pais, que nos transmitem essa experiência como cultural. claro que isso no caso de pais urbanos, como sempre foram os meus.

e foram nesses dois pontos que eu consegui encontrar uma identificação extrema para o meu problema de falta de contato com a cultura nacional. foi um exercício pessoal, que pode não se aplicar a vocês, mas como isso sempre foi algo que me incomodou (pq ninguém gosta de ficar se apoiando na cultura dos outros né) eu me vi na obrigação de achar pontos de contato entre o meu país e a minha vida. acho que consegui. e agora posso bradar a plenos pulmões que sou verdadeiro fã dessa cultura nacional, a minha cultura brasileira antropofágica de resistência.

Lixo no shopping


O Sonic Youth vai tocar na capital. O patrocinador quer uma sede só. Quem sabe, sua sede é só por divulgação, a cultura que se foda...

Como moro fora do “eixo do rock” no Brasil, tomei o transporte coletivo de Porto Alegre indicado por Josef e fui comprar a dose de rock gringo do ano. Era um shopping bonito, tudo verde aconchegante, banheiros automáticos (eles se molham, te molham e te secam pra agradar... fazem tudo só por aproximação). Um lugar quase perfeito.

Existem as lojas.

Existe um bairro pobre há pouco tempo do lindo BarraShop. Boatos correm que os pobres são expulsos do lugar. O lugar é limpo todos os dias.

Não era boato. Eu andava para sair do estacionamento quilométrico e um brutamonte de moto falava com 3 crianças e seu combo bolacha/refrigerante. Mas era só impressão. Quando cheguei perto vi que eram gritos que saíam da boca do motoqueiro do mal. Um segurança exemplar do lindo lugar mandava os pivetes saírem do gigantesco estacionamento. E gritava! As crianças não podiam andar no cordão da calçada. Elas não deviam amarrar os tênis. Elas só tinham que sair logo dali.

Passei a caminhar por cima dos cordões e por cima da grama. Eu podia! Era incrível como a minha idade e a camiseta da UFRGS do meu amigo nos deixavam ser infantis! Tão infantis que ficamos comentando indignados e querendo gritar com o segurança ignorante, dizer que ele estava cometendo um crime, mas nada fizemos.

Mandei o cara se foder quando ele me olhou esperando aprovação ou querendo me colocar medo, o capacete me impossibilitava de ver o inimigo. Ele falou pra eu voltar e falar o mesmo na cara de novo.

Peguei o ônibus.
O show é em SP. Lá se usa a desculpa de que o pobre rola pelas escadas e depois se carrega o corpo no lixo. No lixo produzido pelo shopping.

terça-feira, 15 de setembro de 2009


Um canal passa as fraturas, o sangue e a cura dos machucados causados por acidentes físicos. Outro, a comédia não baseada.

Quem sabe algum possa falar de artistas...

Tela desligada. Ambiente mais preenchido.

A frequência é melhor ouvida, o entendimento chega mais perto, as comidas tem mais sabor e as viagens são mais reveladoras.




(...)




Desligue a produtora e vá produzir.

domingo, 13 de setembro de 2009

Skol - A cerveja desce redondo


Me lembro de tomar Skol com meus amigos no segundo ano, quando eu tava treinando meu organismo pra tomar cerveja, até aquele ano eu ficava só nos destilados (hoje não existe nada além da ceva). Num dia que a gurizada se junto pra aquela galhofa de fim de semana, tragoléu violento. Abri uma redonda, senti aquele fedor característico, convenhamos Skol fede que é um mijo. Comecei a tomar, não tava acostumado com o amargor e o peso do gás no estômago. Fui tomando, me arrastando em umas e tentei acompanhar um cara no número de cervejas. parei na metade das dele, na de número 7. Me levantei, bambiei bonito, dei um coice na cadeira de plástico, sem querer é claro. Me dirigi até o banheiro e acompanhei de outro plano de existência o caminho de volta da cerveja. Skol desce redondo e acreditem camaradas, sobe também. Mas enfim, escatologias à parte, voltei ali pra zona de bebericagem, e tava bem demais, sério, tava sóbrio que nem um juiz, tomava mais umas 7, só que não. É que, amigo, Skolfoda. Skol já não é mais a mesma, bem na real tá uma bosta. Bebe xixi que dá no mesmo. Nota 2, porque te deixa bêbado. E digo mais, quem bebe Skol manja de POUCO A NADA. Skol Beats já é oooutra história.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Trensurb.


Fume um, pegue um trem e ouça a nova arte dos macacos.

Humbug.

Pegue no Mercado e acabe onde os trilhos não levam.

Não desligue enquanto a viagem não terminar.

Olhe pra rua.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Silêncio da imprensa gaudéria depois do Grito.

Eu e milhares de pessoas cumpríamos nossas pacatas rotinas de percorrer o Centro de Porto Alegre em mais uma sexta-feira ao meio-dia. A desinformação sobre o acontecimento da manhã ocupava muitas cabeças, inclusive a minha, que se diz apoiadora da subversão.

O MC5 que tocava nos meus fones de ouvido não foram capazes de abafar o Grito dos Excluídos que tomava conta do lugar. A passeata que saiu da frente do antro de safadeza e pouca vergonha, o Palácio Piratini (quem dera fosse Pirata), cantava pela vida e pela melhoria de toda a situação social de merda que o país enfrenta.

A merda incluía o governo Yeda. É incrível como ainda se precisa chamar atenção para isso, mesmo depois de todo o país já saber de onde vem a casa da madame Crusius... E os mass media ainda ficam no acusa/não acusa...

Procurei incessantemente por membros dos grandes e duvidosos membros da grande mídia do Estado e não tive muito sucesso. Parecia que já tinham visto o bastante e ido para as suas redações aproveitarem o conforto dos seus ares-condicionados. Só me pergunto, condicionados a que?

Em meio a essa séria pesquisa de campo, só consegui achar um número inacreditável de policiais, todos com uma falta de expressão nos rostos. Talvez quisessem sorrir, mas não podiam. Estavam todos parados olhando pessoas pacíficas manifestarem suas dores de cabeça, enquanto descansavam das suas, não precisavam prender, bater, matar, revistar... Mas ninguém nos jornais comentou. Já o comentário “imparcial” de que a manifestação atrapalhou o trânsito e “esquecer” a posição da manifestação em relação ao governo do estado, o maior veículo de comunicação do Rio Grande não deixou de colocar em seu site. Mais um caso de “esquecimento”. Quanto alzheimer...

E o boneco da Yeda que foi queimado? Eu lembro de ver em todas emissoras do país uma réplica mal feita de algum ditador do Oriente Médio queimando numa manifestação longe daqui... Já o daqui, eu só lembro do cheiro e da fumaça, porque notícia ou foto só saiu na minha imaginação até agora.

*Realmente quero que o final desse post não tenha sentido amanhã e o povo de todo Rio Grande do Sul saiba que existe manifestações e problemas em seu estado.

Mais informações em: gritodosexcluidos

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O Didi morreu (...)



Algum tempo atrás na fila de uma confraternização diurna durante a noite, fiquei amigo de um mendigo e ele cantou Psycho Killer dos Talking Heads.

Hoje descobri que outro mendigo fez um vírus de internet falando que o Didi tinha morrido.

Hoje o Didi apareceu no Fantástico, “a sua revista eletrônica”. 50 anos de carreira que nada. Ele pegou o vírus.

As mentes livres sempre foram as mais interessantes.

Deixe as massas. Chega de tantos carboidratos.

Ainda sou um estudante da vida que eu quero dar.


“Acordei numa tarde quente e nostálgica numa época em que eu era a pessoa com o grande corte na parte de cima da cabeça. O cérebro ficava exposto ao vento e ao que passasse perto dela. Os pensamentos, imagens e gostos escapavam para a rua e se tornavam realidade. Os livros ainda precisavam ser lidos, as músicas escutadas e os filmes assistidos pela primeira vez. Tudo era mais interessante.

Decidi gastar em hotéis, dirigir pelas melhores ruas da cidade e de fora dela sem ter destino; beijar desconhecidas, desconhecidos, beijar quem eu amo, bebericar álcool em suas variáveis, ingerir substâncias que me abrirão as portas... Aceitei a ordem do clima do dia e fui viver meus 30 e poucos anos de novo.

Sumi. Morei em lugares que as pessoas não me percebiam e eu era mais um na multidão que sobrevive os seus melhores anos.

Mas a mídia me achou. A maior empresa de “Comunicação” do país encontrou a minha felicidade e chutou seu peito. O seu peito. O meu peito e o dela. Emoção e ódio. Sou um coitado, fui capturado pelo sistema inescrupuloso e ditador de novo.

O que me resta agora é usar isso pra ganhar um dinheiro, dar umas entrevistas, ser lembrado.

É... voltei aos meus 63 anos.”

Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes (já não mais apenas Belchior)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

80, 90, 2000. 70!


Crying Lightninig, o primeiro single do disco Humbug dos Arctic Monkeys, vazou na internet há alguns meses e logo fui averiguar qual era a da nova vibe dos caras. Achei foda, era algo mais sombrio, caótico e sério. Tudo bem longe daquilo que rolou nos primeiros discos da banda.

Tudo bem, como um fã das primeiras produções, eu tinha à primeira vista aprovado a produção do vocalista do Queens of the Stone Age, Josh Homme, e do produtor que já havia trabalhado com os macacos no Favourite Worst Nighmare, James Ford. Mas ainda faltava ouvir o resto do disco. Logo consegui mais três músicas e foi aí que fiquei um pouco em dúvida se tinha gostado do que ouvia. Achei cafona. Cornerstone me pareceu um country feito por uma banda de rock com novas influências de bandas psicodélicas. Secret Door parecia um aviso aos fãs que a banda não ia mais parecer uma reunião de anfetaminados tocando para deixar quem assistia da mesma forma.
Mas o disco ainda não havia chegado. Ouvir músicas soltas está bem longe de entender uma obra.

Só baixei o disco completo por volta de um mês antes do lançamento oficial (viva a internet!), tão grande foi o baque da mudança brusca na sonoridade dos Arctic Monkeys. Fiquei uma semana escutando e tentando entender a coisa toda. Comecei a catar influências e entender sonoridades. Mas ainda me faltava algo.

Tinha sido um dia interessante, entorpecentes leves ocupavam o meu sangue e a minha conduta e aí talvez alcancei o que os ingleses de Sheffield pensavam na composição de Humbug. O hype cominha para uma tendência noventista na sonoridade das bandas, depois dos anos 80 terem tido o seu espaço nos anos 2000. Os caras parecem ter voltado no tempo e feito tudo à base de um pensamento setentista regado a psicodelia, timbres mais pesados que oscilam com pianos bem colocados e um clima caótico por trás de tudo isso.

Um disco que para ser entendido merece a abertura de portas.

Downloads:

Torrent




* O Amarelo Tráfico começará a tratar de música e cultura em geral a partir de agora. Sempre com um foco mais pessoal e verdadeiro, sem seriedade ou falsa análise. Resenhas? Procure sites sérios.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Manifesto do Direito de Tossir

Imaginemos a seguinte situação:

Estou subindo as escadas da minha querida faculdade quando, de súbito, os meus pulmões que, coitados, sofrem abusos diários seja lá do que for, resolvem dar aquela reclamadinha. Uma tosse singela, carregada, porém h1n1 negativa. Automaticamente, viro um criminoso.

Olhares de canto de olho, meninas que até me comprimentavam passam longe e até comentários do tipo "bota uma máscara, guri!" me cercam por todos os lados. Em tempos de pandemia não dá pra brincar né?

Me transformei num pária de uma sociedade em pânico.

No ínicio, até me constrangia. Tentava fugir dos meus reclames bronquíticos para tentar preservar minha imagem de saudável perante as senhoras que, todos os dias, me acompanham no ônibus até o hospital Ernesto Dorneles. Coitadinhas, já devem sofrer de males inimagináveis como fibrose cística e gota, ainda tendo que se preocupar com um guri tossindo no fundo de sua locomoção.

Mas aí me bateu: eu não tenho a porra da gripe! Então pra que tentar preservar as velhinhas? Como se a minha tosse nicotinal pode machucar alguém, que não sejam os músculos do meu abdômen.

Aceitei de braços abertos meu novo papel adquirido nesses tempos de dawn of the dead-pigs. Vou ser o vetor de denúncia da histeria comedida, tossindo o mais alto possível em todos os ambientes públicos que puder. Já me acostumei com os olhares de revesgueio mesmo, tudo que eles me causam é uma gargalhada interna de puro sadismo dessas pobres criaturas que irão correndo para casa se banhar em álcool-gel.

Por isso, meu Manifesto do Direito de Tossir. Por que a subversão não precisa ter um papel de cabal importância para o declínio do establishment todos os dias. Apenas uma risadinha na cara de vocês já basta.

Mas agora eu me pego pensando, quando que essa minha tosse vai parar??

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

FABICO e RBS: um caso de amor inexorável (L)

A aliança está selada. Aquela que, supostamente, era o último reduto de resistência ao imperialismo jornalístico, foi derrubada no dia de hoje.

Protestos nas ruas, manifestações de ódio, barricada na frente da faculdade!!

Que nada, a FABICO nada mais é um do que um reflexo de todas as patologias que acometem nossa sociedade. Apatia, ganância, preguiça e BURRICE!

"Como posso ser idealista? Vou morrer de fome!"

Se não quer morrer de fome escolheu a profissão errada MANÉ! Quer ganhar dinheiro com a consciência limpa, vai fazer engenharia e não enche o saco. Pelo menos ninguém vai ter que te ouvir falando merdas escritas por interesses que tu desconhece completamente.

Me chamem do que for, chato, arrogante, metido ou qualquer outro adjetivo escolhido especialmente para escantear aqueles que não vendem a alma por um piso salarial qualquer, afinal, minha lógica é a do pensamento marginal; escrevo num blog cujo mote é subversão e chinelagem e hipocrisia é um atributo que nunca me atraiu.

Clamo solitário, porém convicto de que o que faço é certo. Se não acreditam, leiam o periódico AMARELO TRÁFICO, a ser impresso em breve e distribuído pelos corredores da nova filial da zerohora.

E nesses tempos de campanhas bombásticas multimídia, eu lanço a minha: #foraRBS

domingo, 9 de agosto de 2009

Pega na minha vara.

As vezes é tudo que precisa ser dito.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

devaneios desconexos depostos de des...


tá nublado e prestes a chover. pra variar, eu to de ressaca e com uma pilha de atividades para realizar, sendo a mais notória delas um fichamento de um livro chamado o terceiro olho, que teoriza um filme do glauber rocha, idade da terra.
se o filme, por si só, já é praticamente incompreensível, imagina então um livro escrito por um cara de nível acadêmico altíssimo cujo único propósito é uma masturbação intelectual eterna. eu fico pensando como essa gente consegue achar tantos conceitos fundamentais para a compreensão total de uma obra de ficção. não posso deixar de achar que grande parte do embasamento teórico que é destilado nessas páginas não passa de pura especulação intelectual fajuta (começou a chover valendo), elaborada apenas para, ou alcançar um grau de formação superior, ou para encher o tempo de bolsistas de iniciação científica, como eu, que não tem o que fazer nas férias prolongadas proporcionadas pela nossa querida universidade.
mas deixando a prolixidade um pouco de lado (é difícil, mas vou tentar) o que eu quero dizer é que eu estou de luto, pois o john hughes morreu. pra quem não sabe (sacrilégio!!!) john hughes foi o diretor de clube dos cinco, curtindo a vida adoidado, garota rosa shocking, gatinhas e gatões, mulher nota 1000 entre outros. o rei da sessão da tarde. morreu ontem, em manhattan, de ataque do coração creio eu.
seguindo o exemplo do nick hornby em alta fidelidade, onde ele se questiona se sua vida é como é por causa da música pop, eu me pergunto o quanto da minha personalidade, fundada em grande parte na minha não tão distante adolescência, deve às milhares de horas que passei assistindo aos filmes desse cara. eu já fui em centenas de situações da minha vida personagens johnhughesianos, em todos os sentidos, e sempre agi como tais, mesmo que inconscientemente, o que sempre resultou em rajadas inimagináveis. o único que eu nunca fui foi o ferris bueller, provavelmente o personagem mais afude da história do cinema, talvez por que dentre os tipos presentes na sua filmografia, ferris é o mais irreal de todos e também a utopia personificada de qualquer guri de 17 anos. mas agora eu cheguei a uma conclusão: acho que eu vivo a minha vida em função de tentar ser o ferris bueller, mas a vida não é um filme do john hughes. bem que poderia ser na verdade.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

ócio pelo ócio


exercício para uma mente paralisada pelo tédio: discorrer sobre o maior número de bobagens no menor número de linhas possível em tempo recorde.

1,2,3 foi!:

é fácil sentar num floco de milho e ficar esperando sua van chegar, mas sinceramente, prefiro mil vezes as vias da manguetown sulina (ou suína?) encarangada de frio, numa noite em que os meus neurônios, já não tão inteiros assim, deveriam estar se comportando como coelhos fissurados, trepando enlouquecidamente e gerando mil e uma idéias (com acento) por filhotes ou no mínimo uma mera noção do que estou supostamente lendo. ao contrário, sento na mesma cadeira de sempre, e na rotina sufocante do f5 me tranco no fundo da improdutividade mental, proporcinada com glórias e festejos de minha parte, mas que as vezes se torna insustentável por uma fagulha de consciência, como essa que agora me acomete, que faço questão de afogar naquele velho rio que todos conhecemos, chamado sequela.

poderia escrever muito mais, mas como o exercício não melhorou muito a minha situação, vou continuar ali coçando no sofá, que pelo menos assim eu não tomo o tempo de vocês em vão.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ouvintes de lancheria.


Eu deveria pegar uma comanda. E não peguei. Eu deveria pegar de novo. E não peguei.
No final, vinha a cobrança, mas eu não queria pagar. Sairia como se nada tivesse acontecido, afinal eram um chikenburguer com queijo e uma lata econômica de fanta laranja. Nada demais, não era motivo para alarde, apenas uma alimentação.

Vou sair sem pagar. Que isso, não faz isso, que falta de escrúpulo! Mas isso é uma subversão ao comércio. E daí? meu pai tem um comércio, tá? Isso é uma grande empresa, só vou estar fazendo um pouco do que eles criam,,, roubo de um para dar a outro,,, no caso estou dando a mim.

VOZ ALTA. O que tu comeu mesmo? foi um chikenburguer e uma fanta laranja, né?

Fui obrigado a pagar. A minha relação com o capitalismo ladrão cheio de lucro foi esclarecido para todos que tinham ouvidos.

Ainda bem que muitos tem ouvidos. Pena que não os usam com sabedoria.

“Oo, Adriano, tá me ouvindo?” já diziam os bons ouvintes.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Reflexão

Basicamente, nos últimos tempos me deparei com algumas situações que me fizeram refletir um pouco sobre a nossa raça. Outro dia fiquei sabendo de um colega do meu irmão de uns 12 anos que se enforcou. O guri se matou porque não aguentaria mostrar as notas ruins para sua mãe. O que eu pensei na hora foi: porque ninguém ajudou o garoto a tirar notas melhores? Me lembrei do meu colégio e também da faculdade. Os professores continuam com a mesma mania de querer nos empurrar conhecimento goela abaixo. Que saco! Ninguém explica nada, ninguém tem certeza de nada. Os professores, com algumas ressalvas, é claro, não veem que o trabalho deles não despejar um monte de bosta, que eles chamam de conteúdo, em cima da gente e ir embora, o trabalho deles é fazer com que nós fiquemos INTELIGENTES, só que eles preferem fazer porcamente o que são pagos (mal pagos, na maioria das vezes) para fazer e irem pra casa tomar café. E os pais do moleque, batiam nele com certeza, olha o que eles fizeram! Quando eu tinha 12 anos nem fodendo eu não pensava em me matar, eu era uma criança. Imagina como a cabeça do guri estava. Coitado. No fim de tudo isso o que eu consigo ver é algo muito mais profundo. Eu quando fiquei sabendo do tal incidente fiquei revoltado, porque o garoto não vai ter uma segunda chance. Meu irmão me contou que todos no colégio estavam chorando, principalmente os professores, eu sei porque, porque eles sabem que parte da culpa é deles, e não há escapatória, parte da culpa É deles. É isso que tá acontecendo o tempo todo no mundo inteiro. Cada um faz porcamente o que deve fazer e espera que quando a merda bater no ventilador não respingue em si. Cada um puxa a corda pro seu lado e dane-se quem não conseguir sobreviver. Só que não é assim que deve ser. O mundo está podre, e as pessoas que vivem apenas por si mesmo são os vermes consumindo esta maçã. No entanto me resta um pouco de esperança quando eu lembro que ainda tem gente que diferente de mim acredita na salvação. Gente que vê nos outros um pouco de inteligência, que vê no próximo algo de bom, e que sabe que só existe vida se ela for compartilhada. Confesso que se não fossem essas pessoas eu já tinha entregado do pontos.

Aula de teatro.


Eu falei de arte contemporânea, de cachorro, de pessoas e de hipocrisia e passividade.
Falaram sobre música pop, de dicionário, de fotografia e de hipocrisia e passividade. A sociedade é hipócrita e passiva!
(..)
Falaram de eucaliptos, de comércio, de propaganda, de história e de abordagem midiática. Era neutra.
Discordei!
Interrompi quando achei que não conseguiria mais ouvir tanta bobagem.
Opinião minha.
Mas eu deveria ficar quieto, parar de dar chilique. Palavras das que falaram sobre o nicho da senhora Spears. Estavam completando mais um dos módulos da escola de atores.
Atuarão junto àqueles mais ricos e famosos nas novelas da vida. Fingirão piedade, revolta, tristeza.
Deixarão as dificuldades pra quem as tem, sem as sentir de verdade.

O distrito dorme com poucos personagens reais. Sempre.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Sábado, 11 de julho (aproximadamente 70 milhões de anos atrás) – Terça-feira. Domingo, 12 de julho de 1967 – Quarta-Feira.


Digerindo. Ficando nu.

Chave na fechadura. Já não está mais emperrada...

Luz na cara. Frio no corpo e mal-estar. A câmera já estava ligada, mas tocavam duas músicas ao mesmo tempo. Eu sozinho dentro de casa com o frio da rua a me incomodar. Mas um libertino veio me libertar. Era um anjo do mal que só fazia o bem. (Câmera lenta na viagem para receber o calor da rua.)

Ar quente de bons sentimentos. Pista lotada. Dança multicolorida e psicodelia em preto e azul. Tudo acontecia. Nada acontecia. Saí voando. Flutuava. Tudo ao nível do chão. Ao nível do super-vão que estava abaixo de todos. Foi nesse que todo mundo caiu. Vi aquilo e decidi cair também. Me joguei onde todo mundo se jogava e tudo ficou mais azul. O branco se tornava mais azul e psicodélico. A câmera não parava de se mover. Os Libertines tocavam bem alto no meu ouvido da direita, enquanto o New Order sintetizava o da esquerda. A câmera girava até a metade da sala e voltava para cobrir a outra metade. As roupas se molhavam exaurindo a falta de vida.

Pessoas importavam demais. Mulheres não importavam. Homens não importavam. Importante mesmo eram as pessoas. Umas estranhas. Muitos amigos e... Quase todas estranhas. Elas me olhavam com caras de quem achava normal ver um bêbado numa festa. Mas eu não estava bêbado! Era tudo um aprendizado. O cérebro decidia alguma coisa e vinha alguém e abria a minha cabeça para arrancar a idéia de lá. O malfeitor devolveu o meu asco contra ele com um abraço que pareceu um soco na cara da minha consciência. Ele devolveu uma das coisas...

Perdi tudo naquela noite. Ganhei uma das coisas mais maravilhosas da minha vida. Eu finalmente percebi que não sei nada. Percebi que tenho preconceitos, tenho pouca credibilidade, tenho poucas boas idéias de verdade, tenho pouco conhecimento musical, tenho algemas que me impedem de flutuar pelo mundo. Mas finalmente vi um videoclipe de dentro. Aquilo tudo era um videoclipe que tratava de uma vida inteira na idade da pedra, na Era dos Dinossauros. Nós éramos os dinossauros que usavam as raízes que saíam dos dentes para se fixar no terreno e nas pessoas. Andávamos em carros movidos com os pés e com a força animal. Com a nossa força.

Já hoje a tecnologia está mais adiantada. O Brasil já trocou de nome. Agora se chama Brazil. Cheguei na década de 60 nessa tarde. Peguei um jipe com os amigos e fui comemorar a vida. Outro videoclipe. Antes havia rodado um sobre uma bandinha de adolescentes. Ontem locações mais caras me levaram para o Rio de janeiro. Mas hoje vivi no Woodstock genuíno dos anos 60 e seu amor pelo rock. O vocalista confirmou... Eu já sabia que ele comentaria do ano, li sobre isso mês passado num almanaque dos melhores eventos dos anos 60 em Porto Alegre. Naquela época aconteciam uns eventos culturais sensacionais, com mostra de filmes e tudo mais. Na mostra de 67 eu vi “Alguém está Batendo na Porta”. Baita filme doido. Drogas, sexo, adolescentes... Videoclipe de banda de rock de verdade.

Mas eu descobri a viagem toda. Olhei na programação do cinema. Em 2009 esse filme foi exibido, mas era só uma reprise. Eu sabia... Estamos nos anos 60, vivendo os 15 minutos pós morte. A vida passa na minha frente. Assim como aconteceu nos 15 minutos anteriores. E nos outros... Nunca vivi. Só no infinito... Vivi enquanto estou morto muito mais do que quem acha que anda vivo por aí.

Isso não foi pela festa, pelo show, pelo filme. Tudo começou com uma mordida e terminou com um nascimento... Transei perigosamente com a vida e tudo terminou com a porta aberta atrás de mim. Eu morri. E parece que então entendi a vida.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Uns dormem, outros dormem e a maioria só pensa em dinheiro.


O Michael morreu. Já são quase duas semanas de manchetes depois dos praticamente outros 50 anos de muitas outras. Testamento, cancelamento de shows, corpo pra cá, corpo pra lá... E agora mais essa de cerimônia cheia de personalidades para o velório. 90 minutos de transmissão mundial. Uma linda homenagem que está custando por volta de US$ 137,5 (R$ 270) a US$ 999 (R$ 1,9 mil) para quem quiser estar presente no evento. Uma quantia pequena para quem é fã de verdade.

P. morreu. Uma manchete no jornal local dizia que o menino era morador de rua e estava sem sua família quando morreu na sarjeta sem nada para comer. De 2 a 3 minutos são gastos para ler a matéria do jornaleco. De 1 a 2 reais são gastos para comprar a informação. Uma quantia razoável por um pedaço de papel, sem soluções.

Os valores estão nos seus lugares. A importância dos fatos faz todo sentido. O jornalista escreve por dinheiro. O sucesso vem em primeiro lugar e a preocupação social é coisa de gente chata que gosta de fazer os outros pegarem no sono. Seria o cúmulo da sonolência jornalística dar mais importância a uma criança que morre de fome do que ao ídolo do pop... Ironia...

Talvez por isso, a Era do Gelo 3 bate recorde enquanto os documentários sobre problemas sociais que eu nem fiquei sabendo do nome sofrem para serem exibidos nos cinemas. Culpa de quem? Minha, tua e de toda a corja que acha que é jornalista.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Notas de uma noite na sarjeta


Levemente embriagado cheguei à porta da perdição. Não pagaria pra entrar. Estava lá a convite da falta de vergonha e da sequela. Nada de extraordinário, era só mais uma noite normal. Mas resolvi esperar um pouco... O clima estava agradável e a sarjeta pedia uns goles derramados que escorreriam pela roupa. Nada de muito pesado, uma cerveja bem gelada resolveria a ânsia. Antes quem sabe uma olhada nas mulheres que caminhavam na rua. O lugar anda movimentado como nunca, gente que não pertence àquilo habita agora aquelas ruas e usufrui de coisas que não gosta. Anseios diferentes trouxeram toda aquela gente. A propaganda, a hipérbole e o sensacionalismo devem ir para o céu e deixar o submundo, o subsolo em paz.

Serafin me acompanhou e barganhávamos beijos em troca de risadas. Mas a multidão de necessidades estúpidas trouxe o que não devia. A frivolidade superou o que importava naquele lugar. A popularização, a multidão tinha tomado o lugar. Garrafa e cacos na barriga. Sangue em troca de dinheiro. Tudo invertido. Num passado não muito longe, o sangue se enchia com o que tinha na garrafa e o dinheiro não importava tanto. Mas o pseudo-assalto só era o início das consequências ridículas da popularização das atividades noturnas daquela parte da sarjeta de porto alegre.

Enfim a cerveja. Bebemos para estancar o sangue fino cheio de álcool. Mas foi como fechar um lado do problema e o outro sair em disparada como uma besta enfurecida e burra. Skin Heads ou algo que valha corriam na nossa direção com garrafas na mão e violência na ideologia. Uma barbárie total. Gente apanhando, vidros quebrados e correria em todas as direções. Nada de felicidade, nada de engraçado como deveria ser. Só a realidade comprovada com os porcos correndo depois que tudo já tinha terminado. Como que para fuçar onde só existem restos...

A perdição não aconteceu. Só a perda. Não há mais “Independência”. A massa tomou conta... Hakim Bey tem toda razão. As Zonas Autônomas são temporárias...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

"Com licença, o senhor é burro, analfabeto ou cheira peido?"

Passeava eu pelo lobby exterior de um hospital de Porto Alegre, hospital público serve acrescentar, quando me deparei grandes, ENORMES, MONSTRUOSAS placas verdes de "não fume". Pois bem, nas tais placas estavam todas as informações necessárias: a lei que proíbe a fumança no local, os dizeres "não fume" e até a simpática fugurinha do cigarro com um risco vermelho por cima. Estou acostumado a passar por ali e por isso já havia visto plaquinhas com o mesmo tema; plaquinhas, não placonas como estas, estas eram novas. Enfim, continuei minha andalança por ali, foi aí que vi, três, TRÊS, 3, isso aí mesmo, 3, do verbo mais que dois (2), três pessoas fumando NA FRENTE DA PORRA DA PORTA ONDE SAEM AS CRIANCINHAS COM CÂNCER DE PULMÃO! Eu sou um cara controlado e não me meti. Por que que eu não me meti? Vou lhes dizer o porquê: porque eu não queria trazer problemas pra mim, e isso faz de mim senhoras e senhores um peido. Sim, um peido. Um peido te alivia, mas não resolve o problema. EU tinha que ter ido lá e ter feito MERDA, isso sim, tinha que ter ido lá e perguntado: "Vem cá oooo filha da puta, tu não sabe ler ou só gosta avacalhar com a saúde das pessoas?" Vai dizer cara, é sacanagem, é muita sacanagem. Por isso meus amigos, decidi que a partir de hoje não só eu vou fazer merda falando pras pessoas pararem de fumar no hospital, como eu vou fazer merda no resto da minha vida e acabar com meus problemas e os problemas do mundo de vez. De um peido pra outro... Faça merda... da grande e roliça de preferência.

domingo, 7 de junho de 2009

Só pra que você nos entenda

Bem, vamos lá. Talvez você, caro leitor, não tenha ainda compreendido claramente o objetivo do blog. Não, não queremos só te xingar, acredite, nosso problema não é com você. Neste texto eu vou ser claro, curto e grosso (e um tanto mais ameno e didático pra que você possa respirar um pouco). Lá vai. A gente se cansou, de verdade, da rotina e da falta de coisas que nós de fato nos liguemos. As vezes parece que ninguém quer mudar nada no mundo aonde a gente convive, é uma mesmice, que já está nos chateando há horas. Sendo assim nós começamos com este pequeno projeto acá. A minha esperança é que isso fique grande, grande o bastante pra que nós contagiemos todo mundo, pra que nós sejamos a voz da vontade de mudar, pra que todo mundo que não concorde com o que está em voga nos procure e pense, finalmente alguém que entende o que eu quero dizer. E se você não concordar com a nossa opinião, melhor, crie você o seu próprio projeto, a sua própria voz. Eu quero agitar as coisas, mexer pra um lado e mexer pro outro e ver no que dá. Tá começando ainda, mas eu tenho certeza que tem um monte de gente lá fora que também quer algo diferente. Enfim, eu não sei qual vai ser o próximo texto do "Amarelo Tráfico", nem sobre o que se tratará, não é bom planejar tudo. Mas eu espero que você esteja aqui pra ler e talvez discordar, se chatear, se irritar e quiçá até gostar. Só um aviso, este provavelmente vai ser o último texto ameno sobre subversão que eu escreverei, provavelmente. Com esse tipo de coisa, não dá pra ficar calmo. E também se não quiser entender, dane-se.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Bando de joão, bando de iguais.

Não me venham com modismos, cansei deles e de seus seguidores. Não me corrijam também, faço o que quero, quando quero, e nada mais nada menos. Sereno, com o olhar de louco te olho, porque eu falo e tu não fala? O olhar diz mais que qualquer coisa, o medo passa pelos olhos, assim como a força, e se te olho com o olhar de louco, mostro a força que tu tem medo de deixar mostrar. Esse medo, que todos em sua grande maioria deixam transparecer e eu não, é que me faz subverter, ser subversivo. A lei é ter medo, a lei é ser receoso. POIS EU ME RECUSO, POR QUE TU NÃO RECUSA, TAMBÉM? Ah, tu tem medo. O olhar chocado, o olhar cagado, o olhar discriminador agora não faz diferença. Aqui tu não vê, tu não sabe, e sinceramente, eu to cagando e andando pra isso. No mundo normal e silencioso, eu quero a diferença e o grito. GRITA! Mas grita alto, teu corpo pede, tua garganta tenta gritar sozinha, se deixe subverter. Contra o padrão e o comum, eu digo amarelo. Contra as leis a as regras, eu digo tráfico.
Eu só quero o diferente, ok, a moda é tentar ser diferente, mas não é esse o diferente que eu quero, quero o espírito diferente, a alma incomum, não quero simular alternatividade nem falsa intelectualidade, prefiro a calma, que também mostra distinção. E com a tranquilidade plena e um copo de cerveja bem gelada, estou pronto para subverter. Risco todos os padrões dos quais eu deveria seguir, gosto de ser eu, inédito. Enquanto alguns simulam padrões, eu digo que não! E negando os estereótipos, negando os iguais, eu me faço diferente. Mas ei! Não vá achando que só porque tu difere de 80% e é igual a 20% que pode ser considerado diferente, essa diferença ainda segue um padrão. Quero a diferença completamente inédita, não importa que tipo de roupa tu veste, que jeito tu fala ou que livro tu lê. O que importa é o que tá na cabeça. Isso sim, faz das pessoas umas distintas das outras.
E com a esperança de que a todas as pessoas - e não só os culpados - possam subverter, aqui estou eu.
Prazer, Surrealysta.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

então me diz ai: quem é viuvinha de quem aqui nessa merda?

eu tenho sérias ressalvas quanto a qualidade de tudo que acontece nesses heterodoxos anos 2000. não que eu ache ruim, nem bom, nem nada, mas o problema é que essa dinossaurada jornalística conseguiu nos por goela abaixo que tudo de bom que existiu na nossa civilização, aconteceu quando eles eram adolescentes e que só eles puderam aproveitar. mas sabe o que é que me irrita mais? eles me convencem. a prova tá ali na primeira frase do meu texto - "ressalvas". mas quem disse que os anos 60 eram melhores que os 2000? bom, uma galera. principalmente essa jornalistada, árbitros do gosto, que pela sua posição de destaque que nós mesmos os relegamos, acabam por ditar que o que era tri já foi, só nos resta revisitar. e nós, como bons acéfalos seguidores de ordens, filhos legítimos da internet, nos utilizamos da nossa mãe por direito da maneira mais errada possível. temos à distância de uns cliques e alguns minutinhos de download ou buffer, todo conteúdo intelectual produzido na história da humanidade e o que fazemos? sentimos saudades daquele tempo... nostalgia de algo que sequer vivemos ou temos o mínimo de relação. que se foda!!! cansei de escutar música velha sendo tocada por gente mais nova que eu. cansei de ler textos copiados descaradamente de estilos que, já naquela época, não tinham grandes inovações. cansei de ouvir falar de tropicália, verão do amor, maio de 68 e o caralho a quatro. sinceramente, amanhã mesmo vou fazer um happening simbólico e tocar fogo em tudo que eu tenho dos anos 60 na redenção. queimar meus lps dos beatles, o meu super raro tropicália ou panis et circenses, meus livros, e junto com eles todos os meus pensamentos retrôs. vou mandar o caetano se fuder a plenos pulmões, por que se tem algo que ele me ensinou, foi isso mesmo. chega dessa babação de ovo. acordei me sentindo totalmente iconoclasta, de um sonho onde a nostalgia não vivida me afogou por tempo suficiente. fodam-se os 60, os 70 e todos mais que vieram antes de mim. finalmente percebi que é agora que eu vivo, e não vou mais permanecer nessa prisão que meia dúzia de velhinhos idiotas e recalcados me confinaram, só porque não estão mais jovens para aproveitar a vida que os cerca. espero que alguns venham comigo, se não vierem, vou sozinho mesmo. nos encontramos em 40 anos, filhos da puta sem visão!

ps: não posso deixar de citar a contribuição do meu estimado colega dr. dep, que inconscientemente me inspirou nesse post.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Subversive-se

- Amarelo-tráfico?
- Amarelo Tráfico...
- Que porra é essa? Subversão? Onde?
- Aaaaaa, tu não está vendo a subversão? Vai tomar no cu então. Tá melhor assim?
- Foi mal. É que a letra preta no fundo branco me cegou.
- Foda-se.

Enfim, pequenos diálogos internos deste que tão marginalmente vos fala. Que somos nós? Ou quem. Somos os culpados. Carregamos a culpa da novidade, da falta de simpatia pela forma constante e comum do agora e do passado. Somos culpados por esta tímida, não, covarde, forma de mudança. Mas não estamos nem aí, tudo tem um começo. Quer dizer, eu não estou nem aí, me recuso a falar pelos meus colegas. Ninguém deve botar palavras na boca de outro. A partir de agora falo por mim, como integrante do amarelo tráfico, mas segmentado, único e subversivo. Subversivo porra! Aqui pelo menos, fujo à regra da camaradagem e do bom senso, mas tenho plena consciência de que é isso que procuramos: o debate e a discordância. Subversão, não sei o que é. Também não ligo pro significado etimológico-dicionarístico. Só o que eu sei é que nós devemos debater, nos debatermos. O mundo quer sempre que sejamos parte da ordem, do rebanho. E não me entenda mal, não sairei do rebanho escrevendo estranho num blog maluco, mas você sim. ME PERGUNTA SE EU TÔ CERTO! PERGUNTA, CACETE! Não sei, óbvio que não meu amigo. Mas eles esperam que você saiba, na verdade que pense que saiba. Mas, faça uma pergunta a mais, e o sistema vem abaixo. Você acha que sabe? Bem, quem acha alguma coisa não sabe merda nenhuma. Tem que ter certeza, e ninguém tem certeza de nada. Haja o que houver, nunca se contente com a primeira resposta.

Aqui acabo minha apresentação. Muito prazer, trafico inteligência, mas não uso, pra não me viciar.

Subversive-se e duvide de mim.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

quem é turbozé de castro neto?

estou sentado diante de uma tela em branco tentando decidir exatamente quem é essa persona que acabei de assumir para me representar. só posso dizer que enquanto sou eu nessas palavras, sou turbozé, e como turbozé gosto de mentir e de falar sobre mim mesmo. gosto também de bares vagabundos, hotéis vagabundos, livros vagabundos e garotas vagabundas. não gosto de seriedade e muito menos de gente sóbria. gosto de quem fala muito, mas se falar mais que eu tá fudido. gosto de fingir que sou grandes coisas e não gosto quando me contrariam. gosto do tarso de castro, dos mutantes e dos anos 60. não gosto daquela bixa do hunter thompson e quero que ele queime no inferno velho filho da puta!! já gostei muito mais da esquerda, mas continuo odiando profundamente a direita. gosto do sarte, do debord e do foucault, odeio o glauber rocha e o meu sonho é ser que nem ele. gosto de beber de tarde, trepar de tarde e escrever de noite. gosto de ficar sozinho apenas com meus cigarros e meus devaneios, sóbrios ou ébrios. adoro não fazer nada quando tenho mil coisas pra fazer, mas me deprimo quando estou ocioso de verdade. gosto da boa e velha pornografia, seja ela brasileirinha, seja ela trash/hardcore/amateur. gosto de cerveja, whiskie, vinho e coca-cola. não gosto de guaraná!! hate people, love gatherings. gosto disso e de tudo o mais, mas gosto principalmente de te prender por esse tempo todo sem ter que dizer absolutamente nada sobre quem eu sou.

sábado, 30 de maio de 2009

Viva o fiMgimento!

Entrei na sala e só tinha alunos da pós graduação. Grande coisa, pensei, tem tanto professor meu que fala de palestras e só faz de conta que sabe alguma coisa mesmo. O pessoal que estava lá devia estar achando que começava a entender das coisas ,mais ou menos como eu, só que em maior escala... Cheguei a achar que conseguiria entender bem a palestra tanto era o meu engano. Sentei num bom lugar e segui falando merda com os colegas que também esperavam o início da tarefa de entender toda a apresentação sobre... Bom, não sei bem sobre o que tratava a falação do professor de uma universidade do RS...

Começou. Passaram-se alguns minutos e eu já estava olhando a minha volta se as pessoas entendiam o que o cara dizia. Ele citava uns autores conhecidos e outros que eu nunca tinha ouvido falar, mas tudo parecia não mudar: eu entendia apenas uns 20% das ligações e das explicações, parecia um chapado de éter. Era “segundo fulano”, “o pensamento de não sei quem”... Realmente fantástico ver o cara falando. Não parava nunca e eu ainda tentava entender o início de tudo...

Burro. Só pode... Mas então começou a parte de perguntas e respostas. Fizeram uma pergunta bem simples no início e o palestrante respondeu falando uns 10 minutos. Tudo bem, ele queria responder bem. Mais uma pergunta e outra resposta igual. Comecei a ficar nervoso, a objetividade tinha levado um bico na bunda e ficado chorando do lado de fora. Terceira pergunta... Resposta que não tinha respondido porra nenhuma. O final “não sei se respondi bem a tua pergunta”só veio para confirmar isso. Mas então eu entendi! A palestra funcionava da seguinte forma: um fazia que sabia o que estava fazendo, muitos faziam que entendiam e alguns percebiam o que realmente estava acontecendo, mas ficavam ali sem se manifestar...

As palestras nas universidades são realmente parecidas com o governo Yeda.