sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ouvintes de lancheria.


Eu deveria pegar uma comanda. E não peguei. Eu deveria pegar de novo. E não peguei.
No final, vinha a cobrança, mas eu não queria pagar. Sairia como se nada tivesse acontecido, afinal eram um chikenburguer com queijo e uma lata econômica de fanta laranja. Nada demais, não era motivo para alarde, apenas uma alimentação.

Vou sair sem pagar. Que isso, não faz isso, que falta de escrúpulo! Mas isso é uma subversão ao comércio. E daí? meu pai tem um comércio, tá? Isso é uma grande empresa, só vou estar fazendo um pouco do que eles criam,,, roubo de um para dar a outro,,, no caso estou dando a mim.

VOZ ALTA. O que tu comeu mesmo? foi um chikenburguer e uma fanta laranja, né?

Fui obrigado a pagar. A minha relação com o capitalismo ladrão cheio de lucro foi esclarecido para todos que tinham ouvidos.

Ainda bem que muitos tem ouvidos. Pena que não os usam com sabedoria.

“Oo, Adriano, tá me ouvindo?” já diziam os bons ouvintes.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Reflexão

Basicamente, nos últimos tempos me deparei com algumas situações que me fizeram refletir um pouco sobre a nossa raça. Outro dia fiquei sabendo de um colega do meu irmão de uns 12 anos que se enforcou. O guri se matou porque não aguentaria mostrar as notas ruins para sua mãe. O que eu pensei na hora foi: porque ninguém ajudou o garoto a tirar notas melhores? Me lembrei do meu colégio e também da faculdade. Os professores continuam com a mesma mania de querer nos empurrar conhecimento goela abaixo. Que saco! Ninguém explica nada, ninguém tem certeza de nada. Os professores, com algumas ressalvas, é claro, não veem que o trabalho deles não despejar um monte de bosta, que eles chamam de conteúdo, em cima da gente e ir embora, o trabalho deles é fazer com que nós fiquemos INTELIGENTES, só que eles preferem fazer porcamente o que são pagos (mal pagos, na maioria das vezes) para fazer e irem pra casa tomar café. E os pais do moleque, batiam nele com certeza, olha o que eles fizeram! Quando eu tinha 12 anos nem fodendo eu não pensava em me matar, eu era uma criança. Imagina como a cabeça do guri estava. Coitado. No fim de tudo isso o que eu consigo ver é algo muito mais profundo. Eu quando fiquei sabendo do tal incidente fiquei revoltado, porque o garoto não vai ter uma segunda chance. Meu irmão me contou que todos no colégio estavam chorando, principalmente os professores, eu sei porque, porque eles sabem que parte da culpa é deles, e não há escapatória, parte da culpa É deles. É isso que tá acontecendo o tempo todo no mundo inteiro. Cada um faz porcamente o que deve fazer e espera que quando a merda bater no ventilador não respingue em si. Cada um puxa a corda pro seu lado e dane-se quem não conseguir sobreviver. Só que não é assim que deve ser. O mundo está podre, e as pessoas que vivem apenas por si mesmo são os vermes consumindo esta maçã. No entanto me resta um pouco de esperança quando eu lembro que ainda tem gente que diferente de mim acredita na salvação. Gente que vê nos outros um pouco de inteligência, que vê no próximo algo de bom, e que sabe que só existe vida se ela for compartilhada. Confesso que se não fossem essas pessoas eu já tinha entregado do pontos.

Aula de teatro.


Eu falei de arte contemporânea, de cachorro, de pessoas e de hipocrisia e passividade.
Falaram sobre música pop, de dicionário, de fotografia e de hipocrisia e passividade. A sociedade é hipócrita e passiva!
(..)
Falaram de eucaliptos, de comércio, de propaganda, de história e de abordagem midiática. Era neutra.
Discordei!
Interrompi quando achei que não conseguiria mais ouvir tanta bobagem.
Opinião minha.
Mas eu deveria ficar quieto, parar de dar chilique. Palavras das que falaram sobre o nicho da senhora Spears. Estavam completando mais um dos módulos da escola de atores.
Atuarão junto àqueles mais ricos e famosos nas novelas da vida. Fingirão piedade, revolta, tristeza.
Deixarão as dificuldades pra quem as tem, sem as sentir de verdade.

O distrito dorme com poucos personagens reais. Sempre.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Sábado, 11 de julho (aproximadamente 70 milhões de anos atrás) – Terça-feira. Domingo, 12 de julho de 1967 – Quarta-Feira.


Digerindo. Ficando nu.

Chave na fechadura. Já não está mais emperrada...

Luz na cara. Frio no corpo e mal-estar. A câmera já estava ligada, mas tocavam duas músicas ao mesmo tempo. Eu sozinho dentro de casa com o frio da rua a me incomodar. Mas um libertino veio me libertar. Era um anjo do mal que só fazia o bem. (Câmera lenta na viagem para receber o calor da rua.)

Ar quente de bons sentimentos. Pista lotada. Dança multicolorida e psicodelia em preto e azul. Tudo acontecia. Nada acontecia. Saí voando. Flutuava. Tudo ao nível do chão. Ao nível do super-vão que estava abaixo de todos. Foi nesse que todo mundo caiu. Vi aquilo e decidi cair também. Me joguei onde todo mundo se jogava e tudo ficou mais azul. O branco se tornava mais azul e psicodélico. A câmera não parava de se mover. Os Libertines tocavam bem alto no meu ouvido da direita, enquanto o New Order sintetizava o da esquerda. A câmera girava até a metade da sala e voltava para cobrir a outra metade. As roupas se molhavam exaurindo a falta de vida.

Pessoas importavam demais. Mulheres não importavam. Homens não importavam. Importante mesmo eram as pessoas. Umas estranhas. Muitos amigos e... Quase todas estranhas. Elas me olhavam com caras de quem achava normal ver um bêbado numa festa. Mas eu não estava bêbado! Era tudo um aprendizado. O cérebro decidia alguma coisa e vinha alguém e abria a minha cabeça para arrancar a idéia de lá. O malfeitor devolveu o meu asco contra ele com um abraço que pareceu um soco na cara da minha consciência. Ele devolveu uma das coisas...

Perdi tudo naquela noite. Ganhei uma das coisas mais maravilhosas da minha vida. Eu finalmente percebi que não sei nada. Percebi que tenho preconceitos, tenho pouca credibilidade, tenho poucas boas idéias de verdade, tenho pouco conhecimento musical, tenho algemas que me impedem de flutuar pelo mundo. Mas finalmente vi um videoclipe de dentro. Aquilo tudo era um videoclipe que tratava de uma vida inteira na idade da pedra, na Era dos Dinossauros. Nós éramos os dinossauros que usavam as raízes que saíam dos dentes para se fixar no terreno e nas pessoas. Andávamos em carros movidos com os pés e com a força animal. Com a nossa força.

Já hoje a tecnologia está mais adiantada. O Brasil já trocou de nome. Agora se chama Brazil. Cheguei na década de 60 nessa tarde. Peguei um jipe com os amigos e fui comemorar a vida. Outro videoclipe. Antes havia rodado um sobre uma bandinha de adolescentes. Ontem locações mais caras me levaram para o Rio de janeiro. Mas hoje vivi no Woodstock genuíno dos anos 60 e seu amor pelo rock. O vocalista confirmou... Eu já sabia que ele comentaria do ano, li sobre isso mês passado num almanaque dos melhores eventos dos anos 60 em Porto Alegre. Naquela época aconteciam uns eventos culturais sensacionais, com mostra de filmes e tudo mais. Na mostra de 67 eu vi “Alguém está Batendo na Porta”. Baita filme doido. Drogas, sexo, adolescentes... Videoclipe de banda de rock de verdade.

Mas eu descobri a viagem toda. Olhei na programação do cinema. Em 2009 esse filme foi exibido, mas era só uma reprise. Eu sabia... Estamos nos anos 60, vivendo os 15 minutos pós morte. A vida passa na minha frente. Assim como aconteceu nos 15 minutos anteriores. E nos outros... Nunca vivi. Só no infinito... Vivi enquanto estou morto muito mais do que quem acha que anda vivo por aí.

Isso não foi pela festa, pelo show, pelo filme. Tudo começou com uma mordida e terminou com um nascimento... Transei perigosamente com a vida e tudo terminou com a porta aberta atrás de mim. Eu morri. E parece que então entendi a vida.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Uns dormem, outros dormem e a maioria só pensa em dinheiro.


O Michael morreu. Já são quase duas semanas de manchetes depois dos praticamente outros 50 anos de muitas outras. Testamento, cancelamento de shows, corpo pra cá, corpo pra lá... E agora mais essa de cerimônia cheia de personalidades para o velório. 90 minutos de transmissão mundial. Uma linda homenagem que está custando por volta de US$ 137,5 (R$ 270) a US$ 999 (R$ 1,9 mil) para quem quiser estar presente no evento. Uma quantia pequena para quem é fã de verdade.

P. morreu. Uma manchete no jornal local dizia que o menino era morador de rua e estava sem sua família quando morreu na sarjeta sem nada para comer. De 2 a 3 minutos são gastos para ler a matéria do jornaleco. De 1 a 2 reais são gastos para comprar a informação. Uma quantia razoável por um pedaço de papel, sem soluções.

Os valores estão nos seus lugares. A importância dos fatos faz todo sentido. O jornalista escreve por dinheiro. O sucesso vem em primeiro lugar e a preocupação social é coisa de gente chata que gosta de fazer os outros pegarem no sono. Seria o cúmulo da sonolência jornalística dar mais importância a uma criança que morre de fome do que ao ídolo do pop... Ironia...

Talvez por isso, a Era do Gelo 3 bate recorde enquanto os documentários sobre problemas sociais que eu nem fiquei sabendo do nome sofrem para serem exibidos nos cinemas. Culpa de quem? Minha, tua e de toda a corja que acha que é jornalista.