quarta-feira, 21 de outubro de 2009

11:20 pm.


O último trem da noite se preparava para sair enquanto eu trocava um vale-transporte por 3 pacotes de balas de goma e um torrone com um companheiro de viagem. Seu José, Manuel, Ricardo, Aroldo me passava os doces e contava sua rotina. Tinha trabalhado o dia todo e enfrentado suas horas cansativas e perigosas na rua. Mas não há nada a fazer, ser ambulante é o que lhe sobrou. A convivência com a rua é a única forma de não viver nela integralmente.

Uma conversa sobre o mundo real, um papo que me agredia o estômago a cada plano contado com profundidade de campo infinita, onde cabiam milhares de vendedores como aquele, me fazia ter nojo do meu cérebro preguiçoso e cheio de vácuo intelectual referente ao que pode ser feito para que se mude a merda toda em que se vive. A cada frase eu me sentia mais alienado, mais ignorante ao que acontece no trem das 11 e 20 da vida.

O trem para e arranca. Acordo do devaneio com um adolescente comprando torrones para ele e suas amigas. Depois de três perguntas, consigo saber o porquê de sermos companheiros de viagem: são os mais novos contratados de um Mc Donalds de Canoas e se dirigem às suas casas. Felicidade e raiva tomaram o meu pensamento. Reféns do capitalismo ou sobreviventes com um emprego? Difícil escolher... Mas a sua essência ainda estava lá: fiz parte da partilha dos torrones, eu poderia comer junto com todos, sem nem mesmo ter falado meu nome.

Se foi a juventude. Ficou a experiência. O vendedor ambulante precisava vigiar o acerto do anúncio de qual estação estávamos. Erros aconteciam. Afinal, já descera muitas vezes na estação errada, o condutor errava algumas vezes. Mas e aí, como ele fazia para chegar no destino certo? As pernas pagavam pelo erro da grande organização.

E os carros continuam cheios de pessoas sozinhas nos bancos.

2 comentários: