ele apenas envelheceu
Sempre quis ser velho. Não só pelo fato óbvio de ficar velho significar que você não morreu antes do tempo – embora seja uma ÓTIMA justificativa - mas porque sempre quis ter bigodes, usar colete, fumar charuto ou jogar bocha, essas coisas que fazem você ser EXECRADO pela sociedade caso não ostente uma vasta cabeleira branca ou algum outro sinal de que já se encaminha para o final de sua vida.
Porém, nada disso é tão SENIL e me desperta tanto interesse quanto contar histórias a desconhecidos. Não sei que fenômeno é esse, mas parece que é só a pessoa atingir a idade para tomar a vacina da gripe de graça que, inconscientemente, desperta um FORREST GUMP dentro dela. Já nem sei mais quantas vezes ouvi sobre o barulho feito pela primeira égua que meu pai teve na infância, ou sobre a cadeia hierárquica das câmeras fotográficas antigas do senhor jornalista que compartilha o mesmo bar de estimação comigo – quase sempre bêbado, o que acentua a sua PROLIXIDADE.
Mas o paraíso desse complexo de SHERAZADE é mesmo a PRAÇA. Entre uma partida de dominó e um chimarrão, é ali que a humanidade sacia sua vontade de falar. Acabo sempre sentado em algum banco no centro, esperando que alguém com idade para ser meu pai venha falar comigo. Sempre com os fones nos ouvidos, óbvio, pra me fazer de difícil. Só gosto de ouvir quem quer MUITO falar, mesmo que tenha que superar os OBSTÁCULOS causados pela juventude, essa safada.
Mais ou menos como esse senhor, Osvaldo, que já sentou ao meu lado me xingando. Demorei a entender o que se passava, com o volume alto do Local Natives – melhor banda – me privando da audição. “No meu tempo as pessoas conversavam, não ficavam ouvindo música”. INTIMADO de tal forma, desliguei o mp3 e comecei a DIALOGAR com ele, tudo o que eu queria – e ele também, acho.
Porém, nada disso é tão SENIL e me desperta tanto interesse quanto contar histórias a desconhecidos. Não sei que fenômeno é esse, mas parece que é só a pessoa atingir a idade para tomar a vacina da gripe de graça que, inconscientemente, desperta um FORREST GUMP dentro dela. Já nem sei mais quantas vezes ouvi sobre o barulho feito pela primeira égua que meu pai teve na infância, ou sobre a cadeia hierárquica das câmeras fotográficas antigas do senhor jornalista que compartilha o mesmo bar de estimação comigo – quase sempre bêbado, o que acentua a sua PROLIXIDADE.
Mas o paraíso desse complexo de SHERAZADE é mesmo a PRAÇA. Entre uma partida de dominó e um chimarrão, é ali que a humanidade sacia sua vontade de falar. Acabo sempre sentado em algum banco no centro, esperando que alguém com idade para ser meu pai venha falar comigo. Sempre com os fones nos ouvidos, óbvio, pra me fazer de difícil. Só gosto de ouvir quem quer MUITO falar, mesmo que tenha que superar os OBSTÁCULOS causados pela juventude, essa safada.
Mais ou menos como esse senhor, Osvaldo, que já sentou ao meu lado me xingando. Demorei a entender o que se passava, com o volume alto do Local Natives – melhor banda – me privando da audição. “No meu tempo as pessoas conversavam, não ficavam ouvindo música”. INTIMADO de tal forma, desliguei o mp3 e comecei a DIALOGAR com ele, tudo o que eu queria – e ele também, acho.
Não deu cinco minutos e aquela figura PITORESCA, de chapéu panamá, mala de viagem e POCHETE, já tinha me contado tudo sobre como as MODERNIDADES destruíram o mundo perfeito. O trânsito caótico, a antipatia das pessoas, o tempo corrido, a venda de jogadores e mais alguma coisa envolvendo MULHERES - que eu não entendi muito bem e fiquei com vergonha de perguntar – despertavam a tristeza no coração que batia por trás daquela PORPENTOSA barriga. Só a Previdência não foi DILACERADA naquela tarde: “Sempre sonhei receber sem precisar fazer nada”, disse rindo.
Mas nada ARDE mais nas lembranças de seu Osvaldo que o carnaval. FOLIÃO mais ou menos desde o nascimento de Jesus Cristo, acabou largando o hábito no século XXI. “Hoje em dia carnaval em Porto Alegre é só desfile de carro e meia-dúzia de gente empacotada caminhando. Não sei que graça essa gente vê nisso.”
Graça seu Osvaldo via mesmo era no carnaval-arte das TRIBOS – ele ainda se diz um COMANCHE – aos poucos destruído pelo carnaval-de-resultados das Escolas de Samba, a pior relação gaúcha com o Rio de Janeiro desde a ida de BRIZOLA para a terra do Pão de Açúcar, segundo ele, que, pra piorar, lamenta ter feito parte das duas.
Não lembro bem dos DETALHES, expelidos pelo meu amigo de banco de praça de forma ASSUSTADORA – a idade deve fazer bem pra memória também – mas seu Osvaldo jura ser responsável DIRETO pelos títulos da FINADA Trevo de Ouro, escola de samba do Centro de Porto Alegre, na década de 60. Diz ele ter sido o criador dos sambas que levaram a cidade ao completo ÊXTASE naqueles dias, e que garantiram as TAÇAS para a escola. Fui, inclusive, BRINDADO com alguns trechos das músicas, que falavam sobre revistas, Espanha e Zumbi dos Palmares – não juntas, necessariamente – e que colaboraram para o ENRAIZAMENTO de tal tipo de AGREMIAÇÃO em nossa PROVÍNCIA.
Em tão nobre ESTABELECIMENTO, seu Osvaldo afirma ter conhecido ALCEU COLLARES, grande BALUARTE da Trevo, que se tornou seu grande amigo. Tanto que o levava a encontros CONFIDENCIAIS com Leonel Brizola, então governador deste estado, num dos quais teria pedido a opinião dos dois sobre a sua vontade de MIGRAR para a GUANABARA. “Deveria ter acorrentado ele ali mesmo e não deixado sair nunca”, me contava o amargurado sambista.
Depois, nos anos 80, já DESILUDIDO com o samba e as FESTAS POPULARES, trabalhou para eleger seu amigo prefeito e, mais tarde, governador. “Sempre quis ver um NEGRÃO no poder, ainda mais um que fosse meu amigo!” Ganhou inclusive algum cargo relativamente grande e de nome díficil nas administrações, que eu não lembro mais. Mas, com o tempo, se afastou do ex-governador. “O problema era a Neuza”, diz ele. Ficou sem emprego, não tinha família e gastou quase todas ECONOMIAS em bebida nos bares do centro. O resto desperdiçou.
Agora sai por aí, com uma mala nas costas, vendendo MUAMBAS trazidas do Paraguai. Quando o meu amigo Rodrigo Ferreira, meu FOTÓGRAFO de plantão – já que eu não tenho habilidade ALGUMA – que havia chegado em algum momento da conversa que eu não sei PRECISAR, pediu para tirar uma foto dele, fez-se o caos. Levantou, saiu correndo e nem se DESPEDIU – o que não impediu nosso VIVAZ amigo de CAPTURAR a imagem de seu Osvaldo.
Depois, EMBASBACADO, cheguei em casa e, movido pelo ÍMPETO jovem, joguei tudo no GOOGLE. Não existe registro nenhum de algum OSVALDO na vida de Collares, da Trevo de Ouro e nem na composição dos sambas CAMPEÕES. Mas também, que se dane. Certas histórias não precisam ser VERDADEIRAS para serem REAIS. Quando eu envelhecer, já sei, quero ser mais um Osvaldo.
(texto a ser publicado no jornal 3x4 da fabico - se fosse EXCLUSIVAMENTE pra cá, seria bem diferente aka MELHOR)
postado por daroit (que perdeu a conta no blogger e está SEM SACO pra refazer)
texto bom. autor bicha
ResponderExcluirTexto bom, autor desconheço, mas palavras em letras maiúsculas não deixam com que o comentarista acima esteja completamente errado. Prezo mais pelo texto do que pela escolha sexual das pessoas e....viva o Sr. Osvaldo pelas fictícias boas e verídicas histórias!!!
ResponderExcluirPorra, Daroá!
ResponderExcluirDo caralho!
Foda mesmo.