segunda-feira, 26 de abril de 2010
ócio, sombrinhas, pedreiros, clichês. nada de novo.
Outra saída. Buteco da Vila Planetário.
15:30. Falta de trabalho. Saí para acompanhar uma sessão de fotos sem pretensão. Era o gasto do resto do filme.
O primeiro destino era um evento patrocinado pela Red Bull no Planetário do lado do campus. Só para universitários, energético liberado, dj, caixas, equipamentos, avião de controle remoto para quem quisesse brincar. O pagamento era aparecer nas propagandas posteriores. Uma pauta que considero pelo menos sem graça: estudantes tomando energético conversando sobre aviões ficando ligados no que acontece aos redores da faculdade e participam do evento do momento e batem palmas enquanto suas aulas acontecem ou não no campus ao lado. Não me atrai.
Segue o percurso. A vila Planetário é ali do lado. Medo, receio, tensão? Pssss... Acho que agora vão começar as fotos de verdade. Mas... não. As fotos não são minhas, e não vão ser, estava sem câmera. Quem sabe uma foto da borracharia? Não...
Chegamos à Ipiranga. "Vamos atravessar a ponte, quem sabe tem algo lá". Tudo pacato. Os três fumantes de crack usavam uma sombrinha para tapar a chuva, o vento, os olhares e manter o fogo aceso. Voltei e olhei pra eles. me viram. eu vi. sugeri as fotos. não deu certo. Era perigoso, imagina se os caras não gostam e vem nos matar. Um flanelinha de sinaleira (?!) nos chama e manda esperarmos. Fiquei esperando. Mas abriu a sinaleira e ele não consegue chegar até mim. Não ouve nada, então sigo a caminhada.
Do outro lado do corrego, a foto é feita. Não apoiei. Acho estranho fazer isso escondido. Ou chato. Ou errado. A foto não seria publicada nos jornais como os jornais fazem, mantendo o padrão de suas fotos posadas de quem tem pose e espontâneas/escondidas/discretas/reveladoras de quem é problema.
E o posto da polícia era do mesmo lado do corrego onde foi feita a foto. E a polícia passou por mim na volta. E eu fiquei me perguntando se deveria denunciar. Me disseram que isso não ia mudar nada.
O que adianta? E voltam os clichês, as maiores verdades da humanidade.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
AMARELO TRÁFICO VAI AO TEATRO
mas senta no corredor.
com a equipe de reportagens quase completa, o antes saudoso coletivo de vagabundos e chinelões e agora pretenso coletivo de vagabundos e chinelões que querem se levar a sério AMARELO TRÁFICO, deu as caras lá pelas bandas da ipiranga para averiguar de perto se a nova mania da província de são pedro, a banda APANHADOR SÓ, justificava o BUZZ que têm causado pelos twitters orkuts facebooks da vida. que o disco é muito bom nem preciso falar; se não fosse, não teríamos nos prestado a caminhar pelas cabreiras vielas que assombram nossa cidade no cair da noite. mas como dizem por ai, e eu concordo plenamente, QUERO VER SE É BEM ASSIM AO VIVO. e já adianto que é.
não quero me deter muito neste texto, até por que corre na boca pequena que essa banda ainda tem contas a acertar com os membros desse coletivo num frente-a-frente regado a cerveja barata no bambus, mas também não posso perder o calor dos acontecimentos para registrar uma meia-dúzia de pensamentos.
o fato de o show ter acontecido num teatro, o da renascença no caso, me causou particularmente um frio na espinha, devido a suposta insalubridade alcoólica que reinaria no ambiente. portanto, decidimos chegar uns minutinhos antes para enchermos nossos copos no boteco mais próximo (um posto ipiranga - rajada financeira em contraponto à gratuidade do evento). ao chegarmos no local do evento, claro que fomos recebidos pela horda de clones que atualmente é a cena alternativa porto-alegrense, algo que contrasta de maneira bem irônica com a heterogeneidade de estilos da linha de frente da banda em questão. entramos, e o teatro estava começando a lotar, mas não pensamos duas vezes em sentar no corredor. posso até ir ver show num teatro, mas mesmo assim vou continuar patifando.
os primeiros acordes começam a soar com as cortinas abaixadas, e quando elas sobem, a banda aparece num dos palcos mais bem trabalhados que já vi na minha vida. direção de arte do "espetáculo" merece uma referência absurda, tanto pela decoração como pela iluminação. no aspecto visual, não posso deixar de destacar também as incursões do nosso fotógrafo oficial mario arruda, que parecia uma tartaruga ao atravessar o palco de um lado ao outro abaixado com sua mochila. deu um toque de finesse a coisa toda.
em relação ao show em si, não é do meu feitio ficar jogando rosas, mas também não posso trair meu "senso jornalístico" e ficar criticando aspectos mínimos para dar uma de cool. a impressão que fiquei, e que acredito que todos os que estavam presentes também ficaram, é a de que estávamos presenciando um momento único. uma banda de altíssima qualidade, no auge da sua forma, tocando perfeitamente suas próprias composições com a grandeza de quem toca num teatro, mas com a naturalidade de quem está ensaiando na sala de casa. as músicas do disco fluíram perfeitamente, alcançando sempre o mesmo clima que cabe a cada uma delas, sem nenhum tipo de descaracteriazação. algumas, claro, funcionam melhor no disco que ao vivo, mas como era o lançamento do próprio, não poderiam faltar no set list. porém, canções que talvez não tivessem um grande destaque nos fones de ouvido, ganharam MUITO quando executadas e ouvidas em conjunto. outro destaque fica pras novas composições, só músicas afudes, o que garante a priori um baita futuro pra banda. e o cover de tom zé então, nem se fala.
não quero me alongar muito mais, até por que uma resenha mais específica está no forno. esta aqui é só pra jogar as primeiras impressões. a que fica, como eu já disse, é que me sinto privilegiado de ter estado no show desta noite. foi um breath of fresh air não apenas para o rock gaúcho, que já estava sufocando nos seus terninhos mofados, mas também para entrar com os dois pés na porta e se afirmar como uma das melhores bandas em atividade aqui no país.
paguei pau, mas to nem ai, mereceram bonito.
domingo, 18 de abril de 2010
“QUEM AINDA DISCUTE REVOLUÇÃO?” – CENA 1 – EXTERNA/NOITE – VARANDA EM PARIS 68
são 19 horas em paris. a fotografia é P&B em alto contraste. dois jovens estão sentados na varanda de um prédio aparentemente de luxo, enquanto ao longe se escutam gritos, tiros e explosões. um dos jovens está vestido numa mescla de bob dylan na fase don't look back e um simbolista do século XIX e rabisca em um caderno. do seu lado, usando por cima de sua camisa caleidoscópica uma echarpe, enrola um cigarro o outro jovem. o jovem que está com o caderno (que chamaremos de 'CADERNO' daqui em diante) para de anotar o que quer que estivesse anotando, vira-se para o seu companheiro de varanda ('CIGARRO', como vocês devem ter imaginado) e o fica encarando com uma expressão incrédula. CIGARRO não vê a situação imediatamente, mas quando vai acender o seu cigarro com um fósforo, nota CADERNO e seu olhar. "que foi?" pergunta CIGARRO com um certo espanto, durante sua primeira tragada. "sabe de uma coisa?" diz CADERNO, "eu to me sentindo meio inútil sentado aqui escrevendo". CIGARRO solta a fumaça e olha na direção de onde vêm os sons do tumulto, "é por causa das barricadas? eu tava pensando nisso agora". "não é só por isso, mas também". CADERNO olha para a sua caneta com olhos de desprezo, "enquanto as pedras voam em nome de uma suposta liberdade, essa caneta só me faz mais prisioneiro". "prisioneiro do que?” pergunta CIGARRO, “das tuas ideias? Tu bem sabe que jogar pedras e gritar é proibido proibir não são atos conscientes". ele se levanta, e procura algo em sua volta. acha um cinzeiro e um copo ao lado da cadeira onde estava sentado. leva o cinzeiro e o copo até o parapeito da varanda, bate seu cigarro e continua, "se tu é prisioneiro do pensar, melhor que eles, prisioneiros do agir; sempre subordinados as tuas palavras. a revolução não acontece nas ruas, mas sim nas linhas de um caderno". CADERNO também se levanta, ainda com a caneta em suas mãos como se fosse um objeto de tortura. para ao lado de CIGARRO e pede um pega de seu cigarro. CIGARRO o alcança, porém, a mão para pegá-lo é a mesma que segura a caneta. CADERNO olha para a caneta, para o cigarro, e dá a volta por trás de seu companheiro, parando do seu outro lado, pronto para receber o cigarro com a sua mão livre, a direita. CIGARRO ri esperando que CADERNO o acompanhe, mas ele fica quieto. apenas solta fumaça pensativo. "não é que eu me sinta prisioneiro de minhas ideias, mas sim de minha própria expressão" diz CADERNO, "ambos concordamos que esse mundo está longe de ser o ideal, certo?". "certo", concorda CIGARRO, oferecendo o copo cheio de líquido verde para CADERNO, que aceita e toma um longo gole. "eu não consigo pensar de outro jeito que não seja através de palavras. palavras essas que organizo buscando uma forma e um sentido, para tentar aproximar esse mundo do que julgamos nós ser o ideal" continua CADERNO. "poesia! revolução!" se empolga CIGARRO enquanto busca pela garrafa para encher o copo. "nem poesia, nem revolução" CADERNO decepciona CIGARRO, jogando a baga da varanda. "como fazer poesia, se as palavras que uso são as mesmas usadas para descrever essa realidade insustentável? como fazer revolução, se os valores que nos guiam – justiça, liberdade, igualdade - são valores que nasceram no centro da própria sociedade que queremos transformar? escrever é o ato menos revolucionário que pode existir, pois a escrita não é nada mais do que um eterno repetir das bases de nossa sociedade e dos limites de nossa mente. se lembra da nossa fórmula da revolução?" pergunta CADERNO. CIGARRO prontamente responde, "mas é claro! revolução é poesia, amor e morte. o que tem ela?". "nós acertamos nos termos usados, mas a ordem está errada. na verdade, poesia é que é revolução, amor e morte. a revolução em si não é um fim, mas sim, uma condição para a existência da poesia. ela sim, um fim." CIGARRO fica quieto por uns instantes, quase como em respeito às palavras de CADERNO. enquanto enrola mais um cigarro, vê na esquina que a movimentação dos estudantes começa a invadir a sua rua. ele cutuca CADERNO, que está alheio em pensamentos. "então, bora fazer poesia? a revolução já tá nas ruas, é só descer. a morte, bem, uma morte em meio a massa sempre tem o seu valor". "e o amor?", pergunta CADERNO. "amor a causa?" responde CIGARRO e ambos começam a rir histericamente. a porta da varanda se abre atrás deles e de dentro do apartamento sai uma loira com cabelos de brigitte bardot enrolada apenas em um lençol. "do que vocês tão rindo, hein?", diz a loira, que chamaremos de LENÇOL. "já estou há uma hora esperando vocês lá dentro, e vocês aqui, rindo de mim provavelmente". "nada querida", diz CADERNO. "foi só um assuntinho que surgiu aqui, mas já resolvemos" completa CIGARRO. "vai entrando que a gente já vai". LENÇOL dá um sorriso, manda um beijo e entra. "só não esqueçam dos cigarros e dos copos!" ela grita já dentro do apartamento. CIGARRO e CADERNO se olham por uns segundos, enquanto o conflito entre policiais e estudantes toma contornos apoteóticos na rua, com pedras, fogo e sangue. CADERNO diz pra CIGARRO, "quem sabe não fazemos nossa poesia aqui em cima mesmo? a revolução deixamos pra quem já está na rua. a morte, como sempre, fica por conta da garrafa." "e o amor?" CIGARRO diz, já com um ensaio de sorriso estampado no rosto. "olha, é melhor já ir entrando, por que não é sempre que o amor fica tão bonito enrolado num lençol".
quarta-feira, 14 de abril de 2010
vivendo de tempo perdido
de hoje em diante não farei mais nada a não ser perder tempo. todos meus esforços serão voltados para a nobre atividade de ver a vida passar pela minha frente e não dar nem um tchauzinho. minha filosofia será a das amenidades e minha política a do deixa-estar. aceitarei de braços abertos os títulos de vagabundo, preguiçoso e chinelão que aos poucos já começam a me dar. não precisarei mais me importar com a lógica do pensamento marginal, a dialética do tédio e muito menos com o elitismo pseudo-europeu terceiromundista que me rodeia. só vou me sentar e deixar que os absurdos se desdobrem com a mesma naturalidade com que eu vi um "subversivo" criticar a bebedeira de um amigo no encontro menos subversivo que já participei na vida. por favor, não achem que estou sendo irônico ou por algum momento me levando a sério demais. os exemplos que estou usando aqui só servem como uma mera despedida para termos que sempre tive como queridos numa vida passada em que buscava achar algum sentido para o que quer que fosse. não se pode tentar esfacelar as totalidades, romper as estruturas ou mesmo experimentar a boa e velha subversão ft. chinelagem vivendo de um tempo que é experimentado por todos, ou seja, o tempo vivido do trabalho, da arte e da própria existência. a minha fuga do tempo vivido para o tempo perdido não é em si só um ato de subversão, muito pelo contrário. é apenas uma escolha arbitrária que estou revelando com muito alarde. não viso nenhum tipo de fruto a ser colhido que não seja uma insustentável leveza do meu próprio ser, a não ser que daqui uns dias decida redescobrir esse tempo, mas dai já é outra história. agora me ocupo apenas de viver de tempo perdido.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Alívio na China.
A noite. Enfim começou o ano letivo. O aprendizado.
Deveríamos começar. Era o Adair ali. O bar fazia parte da quarta-feira de jogos de futebol. Mas eu me sentia como alguém nativo. Afinal, eu não ia só nas quartas. Queriam colocar um som e ajudei. Cena do Chaves com a descoberta de novas tecnologias, chegadas inesperadas para o concerto e para uma conversa sobre camisetas de alface. Bob Marley logo em seguida. Depois do jornal.
O bar poderia se tornar um aquece buteco foda. Umas discos com gente de fora, mas que sempre tá lá. Ou que nunca vai, e sempre tá lá. Todo mundo. E um vídeo poderia acontecer. Dei a idéia pro Adair. Ele náo entendeu bem. Notei na hora. Veio com um papo de que deveria falar com o Curirim antes. Isso que ele é o dono.
Mas ninguém entende o que não conhece. Sempre precisamos de um tempo para o entendimento.
Mais um ar. E foram dois ares.
E foi todo ar. No banheiro tem um jornal no chão com uma notícia do título “Alívio na China”. Era uma metáfora num grande jornal. As coisas parecem mudar, mas só parecem. O conservadorismo ainda está lá.
Li uma reportagem na Vice sobre um encontro sobre maconha. Lembrei da Marcha e do Fórum Social Mundial. Algo hiponga. Vai ver é a tendência.
Frases jogadas rechedas rasgadas usadas caídas regadas.
Deveríamos começar. Era o Adair ali. O bar fazia parte da quarta-feira de jogos de futebol. Mas eu me sentia como alguém nativo. Afinal, eu não ia só nas quartas. Queriam colocar um som e ajudei. Cena do Chaves com a descoberta de novas tecnologias, chegadas inesperadas para o concerto e para uma conversa sobre camisetas de alface. Bob Marley logo em seguida. Depois do jornal.
O bar poderia se tornar um aquece buteco foda. Umas discos com gente de fora, mas que sempre tá lá. Ou que nunca vai, e sempre tá lá. Todo mundo. E um vídeo poderia acontecer. Dei a idéia pro Adair. Ele náo entendeu bem. Notei na hora. Veio com um papo de que deveria falar com o Curirim antes. Isso que ele é o dono.
Mas ninguém entende o que não conhece. Sempre precisamos de um tempo para o entendimento.
Mais um ar. E foram dois ares.
E foi todo ar. No banheiro tem um jornal no chão com uma notícia do título “Alívio na China”. Era uma metáfora num grande jornal. As coisas parecem mudar, mas só parecem. O conservadorismo ainda está lá.
Li uma reportagem na Vice sobre um encontro sobre maconha. Lembrei da Marcha e do Fórum Social Mundial. Algo hiponga. Vai ver é a tendência.
Frases jogadas rechedas rasgadas usadas caídas regadas.
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